“Minha próxima grande missão, antes de deixar a presidência desta empresa, o que ocorrerá dentro de três  anos – me revelou o fundador daquele bem sucedido negócio, em tom quase solene – é reinventar a empresa, dotando-a de líderes mais adequados para a nova realidade do mundo em que viveremos”

Esta afirmação que ouvi de um cliente há mais de 10 anos foi muito importante para eu próprio direcionar meu foco na minha prática de consultoria.

Sempre soube que o maior “Calcanhar de Aquiles” da maioria das empresas é que elas não conseguem sobreviver ao desaparecimento do seu fundador. E que a sucessão sempre foi um grande tabu na prática corporativa. Mas dita por um fundador, ainda relativamente jovem e no momento que seu negócio estava alcançando um ótimo patamar de sucesso, me abriu ainda mais os olhos.

Ele ainda acrescentou enquanto degustávamos a sobremesa:

“A liderança, tal qual a conhecemos hoje, está com os dias contados! Por esta razão, resolvi convidar você para este almoço comigo. Precisamos de uma nova forma de pensar e de exercer a liderança. Precisamos de muitos líderes, não apenas de um ou dois. Temos de superar essa visão elitista da liderança, que só comporta um líder em cada empresa, em cada família, e assim por diante”.

Não resisti e afirmei que precisamos formar líderes e não apenas seguidores. Que o líder inspirador possui pessoas em volta de si e não apenas atrás de si.   Que essa é uma grande escolha que precisamos fazer: que tipo de líder desejo ser, o que forma seguidores ou o que forma outros lideres? O que exige obediência cega ou o que  encoraja as pessoas a pensar? O que exige alinhamento automático ou o que estimula o questionamento sadio e produtivo? O que sabe tudo, é o gênio que sai de dentro da lâmpada, ou aquele cuja genialidade é criar condições para que a genialidade dos outros apareça? Que tipo de filhos queremos educar? O “pau mandado” ou o  que cultiva seu próprio estilo ?

Sugeri que ele assumisse uma nova responsabilidade no Conselho de Administração, passando a atuar como investidor e não mais como gestor da empresa. Ele já estava pensando nisso e concordou imediatamente. Após chegarmos a um consenso que muito mais desafiante que liderar pessoas no ambiente de trabalho é ser líder em casa, na família, liderar filhos, parentes e agregados, perguntei ao meu cliente porque ele  estava aceitando mudar de papel quando ainda poderia ter pelo menos 10 anos de vida produtiva na empresa. De forma triunfal, olhando mais uma vez nos meus olhos, ele foi taxativo:

“Esse é o melhor legado que posso deixar para que esta empresa tenha um futuro vencedor. Melhor fazer isso do que deixar simplesmente um bom lucro no caixa ou aumentar a fatia de mercado da empresa. O lucro desaparece facilmente com o tempo. Líderes competentes em todos os níveis duram muito mais e são capazes de vencer obstáculos quando surgem.”

Fiz questão de pagar aquele almoço!