As forças curdas disseram, nesta quarta-feira (26), que retomaram o controle total da prisão invadida pelo grupo Estado Islâmico (EI), pondo fim ao maior ataque jihadista no país em três anos.

Em um comunicado, Farhad Shami, porta-voz das Forças Democráticas Sírias (FDS, lideradas pelos curdos), anunciou que recuperaram o “controle total” da prisão da cidade de Hassake, depois que todos os combatentes do EI se renderam.

Já o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) afirmou que as FDS controlavam a maior parte da prisão de Hassake, uma cidade do nordeste nas mãos de uma administração curda semiautônoma.

Segundo a ONG, porém, as FDS ainda não verificaram algumas áreas dentro da prisão, advertindo que ainda pode haver alguma ameaça.

Mais de 100 combatentes do EI invadiram a prisão de Ghwayran na última quinta-feira, usando armamento pesado. O local é supervisionado por milícias curdas.

Contando com o apoio da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, as forças curdas tentavam, desde então, recuperar o controle da prisão. Foram apertando o cerco, e os combatentes do EI começaram a se entregar.

Segundo as FDS, o Exército “de facto” da administração curda semiautônoma, mais de 1.000 detentos do EI se renderam. O OSDH não soube dizer o número de jihadistas que conseguiram escapar.

No total, os confrontos em torno desta prisão desde 20 de janeiro deixaram 181 mortos, incluindo 124 jihadistas, 50 combatentes curdos e sete civis, segundo a OSDH. Este balanço pode aumentar, à medida que as forças curdas e os serviços médicos acessam todas as partes da prisão.

O OSDH afirma que este ataque é considerado o “maior e mais violento” cometido pelo EI desde a derrota militar do grupo na Síria, em março de 2019.

De acordo com a ONU e com grupos de defesa dos direitos humanos, centenas de menores estariam presos em Ghwayran. Esta antiga escola transformada em centro de detenção teria cerca de 3.500 jihadistas, entre eles ocidentais, ainda conforme o OSDH.

– “Problema internacional” –

Milhares de moradores de Hassake se viram obrigados a deixar suas casas, após a invasão.

No controle de grandes extensões de território no norte e nordeste da Síria, os curdos pedem em vão a repatriação dos quase 12 mil jihadistas de mais de 50 nacionalidades presos no país.

Nesta quarta, o governo curdo semiautônomo renovou seu pedidos de ajuda à comunidade internacional, temendo que o EI possa se fortalecer, recrutando novos combatentes.

“Este é um problema internacional que não podemos resolver sozinhos”, disse Abdel Karim Omar, um funcionário de alto escalão do governo local, à AFP.

Apesar dos repetidos apelos dos curdos, a maioria dos países ocidentais se recusa a repatriar seus cidadãos que estão nessas prisões. E, quando fazem isso, é a conta-gotas.

“Vencemos o EI territorialmente, sem eliminar a ideologia terrorista”, frisou Omar.

A maioria dos detentos de Ghwayran foi capturada por milícias curdas no final de 2018 e início de 2019, últimos momentos de existência do autoproclamado califado do EI abrangendo Síria e Iraque.

Células clandestinas do EI continuam ativas, porém, e costumem sangrentos ataques desde então.