O coração da Fiat vai bater dentro da General Motors. A partir do próximo ano, o motor Fire, recém-lançado pela montadora italiana na Europa e no Brasil, estará movendo os carros pequenos da sócia americana. O Corsa e o modelo de codinome ?Arara Azul? serão os primeiros a receber o equipamento da Fiat. A decisão, na verdade, é o primeiro sinal visível de um processo irreversível de integração, iniciado em março com a compra de 20% da montadora italiana ? um negócio de US$ 2 bilhões. No acordo assinado na época, ficou acertado a criação de duas joint-ventures: uma para fornecer motores e câmbio e outra para cuidar da área de compras de ambas as companhias. O fornecimento do motor é tratado como segredo nas duas montadoras. Mas um time de funcionários das duas empresas corre para tirar do papel aquilo que os executivos assinaram no início do ano. A previsão é concluir os estudos de avaliação até setembro ? um recorde em termos de integração na indústria automotiva.

Ao mesmo tempo em que os engenheiros e técnicos das empresas adaptam o Fire aos Chevrolet, outro grupo trabalha interligando as áreas de compras. São 20 funcionários ? metade de cada companhia ? que se dedicam integralmente ao assunto. A comunicação é feita principalmente por telefone e correio eletrônico. A cada mês, o grupo encontra-se para tratar dos assuntos mais complexos. As reuniões são feitas alternadamente em cada uma das sedes: a da GM em São Caetano do Sul (SP) e a da Fiat em Betim (MG). A ordem é cortar custos, fazendo pedidos unificados à indústria de autopeças. ?Tudo o que puder ser comprado em conjunto, será?, afirma o vice-presidente da General Motors, José Carlos Pinheiro Neto. Pneus, filtros e outras peças que não dependem de adaptações tecnológicas já integram a lista de compras comum. A joint-venture terá dois escritórios: um em cada sede, para ficar próxima aos respectivos departamentos de engenharia. Em cinco anos, a previsão de economia de custos é de US$ 2,4 bilhões. A fase de desenvolvimento de peças conjuntas ainda não começou. ?Isso demora um pouco mais para sair do papel?, diz o executivo.

Na área industrial, o grupo de trabalho é constituído por seis diretores ? três de cada montadora. Eles têm visitado as fábricas de motores e câmbio das duas empresas, reunindo informações para o relatório que deverá estar concluído até setembro. Enquanto o documento do grupo industrial não fica pronto, as linhas de montagem de motores e câmbio vão sendo isoladas por muros. As obras civis deverão ficar prontas nos próximos três meses. ?É uma forma de mostrar que aquela área não pertence mais à montadora mas sim à nova empresa?, explica Pinheiro Neto. A fusão das linhas de motores abriu o caminho da GM para o uso do Fire ? uma situação que vem bem a calhar desde que o consumidor rejeitou o Ecotec, o motor mais moderno da empresa.

No ano passado, a empresa realizou diversas pesquisas para saber se o equipamento desenvolvido pela Opel, sua subsidiária européia, seria aceito no Brasil. O motor foi projetado para equipar o Corsa, que atualmente usa um equipamento derivado do extinto Chevette. A resposta negativa do público esfriou os ânimos na GM. Os consumidores rejeitaram a novidade por uma razão simples: o Ecotec tem três cilindros, em vez de quatro. A perda de um cilindro foi interpretada pelo público como perda de potência. Assim, sem uma alternativa própria para substituir o veterano motor do Corsa, a saída foi buscar em sua mais nova associada a solução para seus problemas. Assim, o motor Fire ganhou lugar nos carros pequenos da GM por imposição do consumidor brasileiro. Para atender seu mais novo cliente, a Fiat está ampliando as instalações industriais em Betim. Um galpão que servia de almoxarifado foi convertido em linha de montagem. O uso do Fire no Corsa não é confirmado em São Caetano do Sul, mas também não é negado. Em Betim, os engenheiros da Fiat sorriem irônicos. Afinal, não é todo dia que se pode fornecer o coração de um carro para a maior montadora do mundo.