A Dotz foi uma das pioneiras no mercado de fidelização no Brasil, em 2000. Dez anos depois, renasceu com o ingresso no varejo off-line. E, após mais de uma década, teve um ‘novo dia 1’, como definiu o CEO Roberto Chade, ao se tornar a primeira do setor não conectada a uma companhia aérea a realizar oferta pública de ações (IPO, na sigla em inglês). No dia 31 de maio, a empresa operadora de um programa que permite acumular pontos para serem trocados por produtos e serviços levantou R$ 400 milhões na B3. “O IPO marcou o início de uma nova era para a Dotz”, afirmou à DINHEIRO o executivo. “Essa nova Dotz nasce com mais usuários, bilhões de dados, mais abrangente, mais presente, mais digital e com mais impacto.”

Do dinheiro levantado, 70% serão aplicados na plataforma digital e em ações de marketing de crescimento. O restante em fusões e aquisições. A proposta da Dotz é gerar mais valor para os usuários e parceiros – são ao menos 200 no e-commerce e 120 de lojas físicas. Uma das soluções será um superapp que disponibiliza ao consumidor oportunidades em fidelidade, marketplace e serviços financeiros. O crescimento dos negócios implica na chegada de profissionais à companhia. A empresa tem 350 colaboradores e pretende contratar outros 200 em até três meses. O desenvolvimento da área de produtos vai impactar, por exemplo, na busca por engenheiros, desenvolvedores e cientistas de dados que possam ampliar os squads (grupos que fazem produtos específicos) – são 11 e a meta é chegar a 24.

A expectativa da Dotz em ganhar mercado está baseada nas métricas operacionais do segundo trimestre. A maré está forte. A base de usuários atingiu 49,6 milhões, alta de 1,6 milhão em três meses. Foram realizados 1,5 milhão de downloads da conta digital, dez vezes mais em relação ao mesmo período do ano passado. Já no marketplace houve crescimento de 70% em relação ao segundo trimestre de 2020, totalizando R$ 131,9 milhões. No segmento bancário o aumento foi ainda maior, de 76%, na base de clientes ativos com cartão cobranded. O volume bruto de mercadoria alcançou R$ 2,8 bilhões no primeiro semestre. “São resultado de dois, três anos de foco, priorização e investimento”, afirmou Chade. A empresa tem como foco a elite da classe média brasileira. “São 90 milhões de pessoas com poder de R$ 2,5 trilhões de consumo.”

Cauê Diniz CONFIANÇA TOTAL CEO Roberto Chade projeta o início de um novo ciclo de negócios na Dotz após a oferta pública de ações na B3. (Crédito:Cauê Diniz)

A empolgação do CEO com o momento da empresa não elimina preocupações. Uma delas é o desafio de contratar com rapidez profissionais de qualidade e que estejam alinhados à cultura da organização. No terreno macroeconômico, Chade destacou que o Brasil começa a entrar em um ciclo próximo das eleições, o que, segundo ele, sempre traz impacto. “As incertezas de Brasil são sempre desafiadoras e, apesar de nós, empresários, já termos doutorado em relação ao tema, nunca se sabe o que pode vir pela frente nesse contexto”, disse.

Enquanto as incertezas em relação ao futuro do País seguem, principalmente em época de pandemia, a Dotz mira o que está ao seu alcance: melhorar os resultados financeiros. Impactada pela pandemia, a empresa teve prejuízo de R$ 22 milhões no primeiro trimestre deste ano, contra prejuízo de R$ 27 milhões de igual intervalo de 2020. A receita líquida foi de R$ 25,4 milhões, com alta de 0,2% na comparação anual.

Embora o faturamento bruto das companhias do setor tenha caído 32,5% (de R$ 1,8 bilhão para R$ 1,2 bilhão) no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2020, o volume de inscritos em programas de fidelidade apresentou alta de 11,1% na comparação anual – de 149 milhões para 165 milhões. Os dados são da Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Fidelização (Abemf). Esse volume de consumidores a mais vai demandar novos portfólios de soluções, e cada vez mais em uma só plataforma. E é essa a aposta da Dotz.