Diversos medicamentos estão em falta tanto em farmácias como em hospitais em todo o país. De acordo com o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), a dipirona monoidratada 500mg injetável está em falta em todos os estados do país. 

As farmácias de diversos estados do país também estão com falta de medicamentos, que vão desde antibióticos até remédios de alto valor para o combate ao lúpus, Guillain-Barré e Crohn. 

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O principal responsável por esse desabastecimento é a falta de Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), matéria prima de todo medicamento e a principal responsável pelo seu princípio ativo. Mais de 95% da IFA utilizada pela indústria farmacêutica são importadas e 68% vem da China.

O presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi) Norberto Prestes explica que o cenário pandêmico e geopolítico dificultou muito a cadeia de distribuição do insumo vindo de fora. 

“O momento geopolítico é atípico e a pandemia foi um problema pela compra da IFA, aumentando a demanda na China e na Índia, e ela está demorando para normalizar a distribuição. O lockdown recente em Xangai é um problema enorme e estamos tendo a guerra na Ucrânia, que tem desdobramentos seríssimos”, explica. 

Política de produção nacional

Apesar da IFA fabricada na China ter um preço muito barato, esse momento de dificuldade na distribuição acendeu um sinal amarelo para a indústria farmacêutica brasileira para que o país ficasse menos dependente desse insumo vindo de fora. 

Prestes explica que por conta dos preços baixos chineses e do fato do preço da IFA ser tabelado pelo governo, a iniciativa privada não se interessa muito por esse mercado. Por isso ele explica que já há um desejo da associação de desenhar uma política pública de fabricação de IFA em território nacional junto com o Ministério da Saúde e a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ele deu um exemplo da política atual de incentivo ao mercado de fertilizantes agrícolas, que também ficou prejudicado por conta da guerra na Ucrânia. 

“Temos de entender que essa deve ser uma estratégia de saúde pública. O SUS é o maior comprador de medicamentos no Brasil. A gente precisa olhar isso com o senso de urgência que a situação merece”, explica Prestes. 

Ele acredita que o país precisaria investir no mínimo R$ 2 bilhões dentro dos próximos 5 a 10 anos para conseguir ampliar a produção de 5% para 20% de todos os insumos utilizados no Brasil. 

Parceria com a Argentina 

Uma das estratégias desenhadas nesse sentido é uma parceria da Associação com a Câmara Argentina de Produtores de Farmoquímicos (Capdrofar). As duas entidades já assinaram um convênio e o primeiro encontro acontecerá no FCE Pharma, evento do setor que vai acontecer entre os dias 7 e 9 de junho em São Paulo.

Em um trabalho conjunto das entidades brasileira e argentina, foram identificados  aproximadamente 400 insumos produzidos nos dois países, dos quais somente 20 são produzidos por ambos. Por isso, Prestes acredita que esse intercâmbio de produção poderia impactar positivamente o setor.

“Precisamos pensar que o investimento em biotecnologia se trata de algo estratégico para, quem sabe no futuro, nos tornarmos exportadores de insumos”, encerrou.