O senhor se lembra como recebeu a notícia da quebra do Lehman Brothers?
Foi em um domingo, estava em Nova York. O Banco Central inglês não permitiu que o Barclays comprasse o Lehman Brothers e a crise se intensificou. Dos Estados Unidos, comecei a anunciar decisões para proteger o Brasil. A primeira delas foi a utilização das reservas internacionais para promover empréstimos às companhias, especialmente para as que dependiam de créditos de bancos fora do País. Assim começamos o trabalho para evitar que a economia brasileira entrasse em colapso. Foi a crise mais rápida da história do Brasil.

Quanto tempo durou?
Durou cerca de 60 dias. Foi a recessão mais rápida do mundo naquela época. Do  total de crédito no Brasil, 20% era proveniente do exterior. E os empréstimos internacionais diminuíram drasticamente. Isso impactou na oferta de crédito do nosso mercado. Antes da crise, de cada R$ 100 de empréstimos vencidos, o contrato era renovado a R$ 130, ou seja, R$ 30 a mais. Depois da quebra do Lehman, isso caiu para R$ 120. Então houve uma contração do crédito no Brasil que afetou todas as empresas.

Como foi esse processo?
As empresas grandes que buscavam dinheiro lá fora passaram a contrair empréstimos em reais, e isso secou o mercado. Fez com que as empresas pequenas e médias não conseguissem mais emprestar. Isso precipitou uma crise de grande dimensão. Os bancos menores perderam completamente a capacidade de se financiar, o que afetou também as instituições que servem às empresas produtoras de automóveis. Houve diminuição das vendas de veículos. Ninguém mais entrava na concessionária. Então tivemos de restaurar o crédito emprestando reservas internacionais para substituir a falta de valores no exterior. Além disso, liberamos compulsório para os bancos e entramos no mercado de futuros para poder enfrentar uma especulação internacional contra o Brasil. Assim o País se recuperou rapidamente.

O senhor chegou a pedir crédito em algum País?
Naquele momento, o Brasil não precisava de empréstimos, pois tínhamos muitas reservas, às quais recorremos. O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) fez uma oferta por conta da necessidade do México e da Coréia do Sul. Essa linha foi estendida ao Brasil. Era uma montante de US$ 30 bilhões, que não usamos. Mas foi importante como um símbolo de força do País.

Quanto usamos da nossa reserva para essa emergência?
Tínhamos cerca de US$ 210 bilhões de reservas. Usamos US$ 30 bilhões, ou15%.

O que mudou na regulamentação do Brasil desde esse período?
O sistema financeiro melhorou muito, tanto que nessa crise brutal que atravessamos (desde 2014), o sistema financeiro não teve problema. Agora é evidente que a crise no Brasil dessa vez foi muito mais grave, pois é uma crise fiscal.

O senhor vislumbra o risco de uma nova crise mundial, alguma bolha por estourar?
Não, mas existia uma preocupação muito grande em relação a uma nova crise nos Estados Unidos em 2016. Isso foi largamente discutido nas reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. A crise no mercado americano seria por excesso de investimento em ações, e de empresas e bancos que tomassem empréstimos para investir em renda variável. Se houvesse uma queda muito grande nos ativos, isso poderia gerar um colapso.

Então podemos entender que o risco dessa bolha está descartado?
No curto prazo, sim. Mas precisamos tomar cuidado.