Ao menos 10 foguetes foram lançados nesta quarta-feira (3) contra uma base que abriga soldados americanos na região oeste do Iraque, dois dias antes de uma visita histórica do papa Francisco ao país, que o pontífice pretende manter, apesar dos riscos de segurança.

Os projéteis caíram na base de Ain Al Asad, que tem soldados iraquianos e estrangeiros. Vários foguetes atingiram a área em que ficam os soldados americanos da coalizão internacional antijihadista.

“As forças de segurança iraquianas iniciaram uma investigação”, afirmou no Twitter o coronel Wayne Marotto, porta-voz americano da coalizão internacional.

Um funcionário civil terceirizado da coalizão, que não teve a nacionalidade revelada, morreu vítima de uma crise cardíaca após o ataque.

O ataque, o mais recente de vários do mesmo tipo cometidos nas últimas semanas, mostra a dificuldade logística de organizar a visita do papa ao Iraque.

O pontífice, no entanto, confirmou poucas horas depois do ataque a intenção de manter a viagem, que começa na sexta-feira em Bagdá.

“Depois de amanhã, se Deus quiser, irei ao Iraque para uma peregrinação de três dias. Há muito tempo que quero encontrar com estas pessoas que sofreram tanto”, disse Francisco, de 84 anos, durante a audiência semanal.

“Peço a vocês que acompanhem esta viagem com suas orações (…). O povo iraquiano está nos esperando, esperou por João Paulo II, que foi proibido de viajar. Não se pode decepcionar pela segunda vez este povo”, completou.

O falecido João Paulo II teve que desistir em 1999 de uma viagem ao Iraque depois de negociações infrutíferas com Saddam Hussein.

– Foguetes de fabricação iraniana –

O Iraque é cenário de profundas tensões entre Irã e Estados Unidos, presentes direta ou indiretamente no país. Washington lidera a coalizão internacional antijihadista que luta contra o Estado Islâmico (EI) e tem no momento 2.500 militares no país.

O Irã tem o apoio do Hashd Al Shaabi, uma poderosa coalizão paramilitar integrada ao Estado iraquiano e formada principalmente por facções armadas financiadas e armadas pelo Irã.

Washington acusa estes grupos armados pelos ataques com foguetes no Iraque.

Fontes das forças de segurança iraquianas explicaram que os projéteis foram lançados nesta quarta-feira a partir de uma localidade próxima da base de Ain Al Asad. Fontes ocidentais identificaram os foguetes como “Grad”, concretamente do tipo “Arash”, de fabricação iraniana e mais potentes que os usados recentemente.

O Iraque viveu um período de calma relativa a partir de outubro, quando foi anunciada uma trégua das facções pró-Irã depois da ameaça americana de retirar todos os seus soldados e diplomatas do país. Mas recentemente os ataques foram retomados.

Em fevereiro, vários foguetes caíram perto da embaixada americana em Bagdá. Outros projéteis foram lançados contra a base militar que abriga tropas da coalizão no aeroporto de Erbil, a capital do Curdistão iraquiano, uma região considerada por muito tempo um oásis de paz em um Oriente Médio marcado pelas guerras.

Duas pessoas morreram no ataque, incluindo um civil estrangeiros que trabalhava para a coalizão.

Como resposta, as tropas dos Estados Unidos atacaram as milícias pró-Irã no leste da Síria e mataram 22 combatentes. Esta foi a primeira operação militar do governo do presidente Joe Biden e recebeu as críticas das autoridades iranianas e síria.

– Sem abraços ou encontros com multidões –

Durante sua visita, que começa na sexta-feira em Bagdá, Francisco não terá encontro com multidões nem o contato direto com os fiéis, por razões de segurança e também como medida de precaução devido à pandemia.

O Iraque parece viver uma segunda onda de covid-19 e registra oficialmente 4.500 novos casos por dia, em um país de 40 milhões de habitantes.

Na terça-feira, o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, explicou que Francisco se deslocará em um veículo blindado durante sua visita.

Praticamente nenhum evento do papa nos três dias de visita reunirá mais de 100 pessoas. A única exceção será uma missa em um estádio de Erbil, no Curdistão iraquiano, onde serão disponibilizadas aos fiéis 10.000 entradas da capacidade de 30.000 do local, explicou o Vaticano.

“A melhor forma de interpretar esta viagem é que é um ato de amor”, disse Bruni, ao reiterar que o pontífice deseja que “as pessoas vejam que o papa está ali e está perto delas”.

Como medida de precaução também será decretado um confinamento nacional durante toda a visita do papa, de 5 a 8 de março.