Aos 45 anos de idade, Marco Aurélio Moschella se emociona ao lembrar do avô libanês, que ensinou o que ele sabe sobre varejo. Emoção não é figura de linguagem neste caso. Moschella fica realmente com os olhos marejados ao revelar que, ainda hoje, o avô de 92 anos gosta de sair pelas ruas da periferia para vender bugigangas. Agora, o neto de seu Emílio vai mostrar se aprendeu bem as lições. Moschella acaba de assumir a direção geral da Fnac Brasil e já anuncia novidades. Ele vai lançar, ainda neste ano, a divisão de marca própria. 

 

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Moschella, da Fnac Brasil: ”Também vamos ampliar a área de serviços, vendendo seguro para eletrônicos”

 

A ideia é vender acessórios para eletroeletrônicos – como suporte para tevê, cabos USB, CDs e DVDs – com a marca Fnac. E a escolha do segmento não é por acaso. Os chamados produtos técnicos, entre os quais estão os eletroeletrônicos e acessórios, respondem por 55% da receita do grupo.  Além disso, demandam investimento muito menor na construção de marca do que produtos de linhas mais charmosas, como aparelhos de som e tevê.

 

Moschella também vai ampliar a área de serviços. “Vamos vender desde instalação de equipamentos e assistência técnica até seguro contra roubo e quebra de eletrônicos”, diz Moschella à DINHEIRO, em sua primeira entrevista depois de assumir a empresa. 

 

Além dos novos projetos Moschella tem pela frente o desafio de implantar um agressivo plano de expansão. Com investimentos de R$ 300 milhões, a meta é abrir 15 novas lojas até 2015 – hoje são dez. 

 

A rede francesa, que sempre esteve mais próxima das classes A e B, também pretende surfar na onda da classe média emergente e vai fincar bandeira em territórios menos nobres e mais distantes como a Zona Leste de São Paulo, a região do ABC e o litoral paulista, a começar pela cidade de Santos. 

 

O grande desafio do executivo, entretanto, é tocar uma empresa que acabou de ser posta à venda pelo dono. Há pouco mais de dois meses, quando visitou o Brasil, François-Henri Pinault, dono do grupo PPR, que tem Gucci e Yves Saint Laurent entre outras marcas, disse que vai vender a Fnac exatamente para se concentrar no mercado de luxo. “Sim, ele disse. 

 

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E realmente a empresa pode ser vendida”, diz Moschella. “Mas há algumas premissas. Primeiro, Pinault não vai fatiar a companhia. Quem quiser comprar vai ter que levar a empresa inteira e não uma ou outra unidade. Segundo, ele não falou em preço e, pelos resultados da empresa, posso garantir que ela não custa pouco.”  

 

No primeiro semestre deste ano a Fnac faturou 1,9 bilhão de euros – crescimento de 3% sobre o mesmo período de 2009. Moschella lembra que, além da expansão no Brasil, a varejista vai entrar em outros mercados latino-americanos, inclusive no México. 

 

Enquanto os franceses não batem o martelo, o executivo trata de tocar o dia a dia da companhia – que ele conhece muito bem. Moschella estava na divisão de varejo da Editora Ática que foi comprada pelos franceses, em 1996. 

 

A Fnac trabalha com um mix tão amplo quanto variado de produtos. Nada menos que 180 mil. “Vendemos cultura e entretenimento. Não somos apenas uma livraria nem uma loja de eletroeletrônicos.”

 

Aí é que mora um dos desafios de Moschella, a falta de identidade da rede. “Eles vendem de tudo, mas não são reconhecidos pelo consumidor como a solução para a compra de determinados produtos. E no varejo você tem que se destacar em alguma coisa”, afirma Maurício Morgado, professor da Fundação Getulio Vargas. 

 

Moschella afirma que a empresa paga o preço da inovação. “Fomos nós que acabamos com as vitrines fechadas e colocamos os produtos ao alcance do consumidor. Isso é experiência de compra e hoje somos muito copiados”, diz. 

 

“Não estou dizendo que o modelo esteja errado. A gente não sabia o que era fast- food até o McDonald’s chegar. Só acho que, no caso da Fnac, o conceito não está muito claro para o consumidor”, completa o professor da FGV.