O Fundo Monetário Internacional (FMI) elevou a previsão de crescimento para o Brasil de 2017, de 0,3%, feita em julho, para 0,7%, um dos maiores aumentos feitos pela instituição nas projeções macroeconômicas para diversas nações nos últimos três meses. O FMI também subiu a estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB) do País para 2018, de 1,3% para 1,5%.

Os indicadores foram divulgados no documento Perspectiva Econômica Mundial, cujo título é “Buscando crescimento sustentável: recuperação de curto prazo, desafios de longo prazo”.

Em abril, o relatório projetou uma expansão do PIB de 0,2% para 2017 e um incremento de 1,7% para o próximo ano. Contudo, em julho o Fundo reduziu a previsão relativa a 2018 para 1,3%.

Na avaliação do Fundo, o Brasil está em processo de recuperação de uma das mais profundas recessões enfrentadas pelo País e estima que no quarto trimestre deste ano o Produto Interno Bruto apresentará uma alta de 1,9% em termos anualizados, ante o mesmo trimestre de 2016, superior ao 1,5% previstos em julho.

Para o período entre outubro e dezembro de 2018, o PIB deve avançar 1,8% em comparação aos mesmos três meses de 2017, também na mesma base de comparação anualizada, pouco acima da estimativa de 1,7% feita há três meses.

“No Brasil, forte desempenho das exportações e redução do ritmo de contração da demanda doméstica permitiram a economia a retornar ao crescimento no primeiro trimestre de 2017, depois de oito trimestres de declínio”, apontou o FMI.

Segundo o Fundo, uma elevação da produção de grãos e reforço do consumo, que contou com a colaboração da retirada de recursos de contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), levaram a uma alta da projeção do PIB de 2017 de 0,5 ponto porcentual em relação à previsão divulgada pelo relatório Perspectiva Econômica Mundial de abril, quando estimou alta de 0,2% para este ano.

Mas o FMI destaca que a continuidade de fracos investimentos e elevação de incertezas na área política e de medidas econômicas fizeram com que a instituição multilateral ainda mantenha a previsão do PIB para o próximo ano 0,2 ponto porcentual abaixo do estimado em abril.

No entanto, o Fundo Monetário Internacional destaca que mudanças estruturais nas contas públicas ajudarão a fortalecer o crescimento do País alguns anos à frente. “A gradual recuperação de confiança – com a implementação ao longo do tempo de reformas fundamentais para assegurar a sustentabilidade fiscal – é projetada para elevar o crescimento para 2% no médio prazo.”

De acordo com o FMI, a inflação no Brasil está baixando mais rápido do que o previsto pela instituição em abril, devido a efeitos mais fortes provocados pelo hiato do produto, apreciação da moeda e favoráveis choques de ofertas de alimentos que reduziram os preços de tais mercadorias. O FMI projeta que o IPCA deverá subir 3,7% em 2017, abaixo dos 4,4% previstos há seis meses. Tal redução da estimativa está sendo influenciada pelo “alto excesso de capacidade na economia depois de dois anos de recessão.”

Para 2018, o Fundo Monetário Internacional também diminuiu sua estimativa para inflação, pois prevê agora uma alta de 4,0%, inferior aos 4,3% divulgados no documento Perspectiva Econômica Mundial de abril. Segundo a instituição, a desinflação tem sido mais rápida do que o esperado no Brasil, o que também ocorreu na Índia e Rússia, e permitiu que o Banco Central adotasse um ciclo de redução de juros.

Quanto ao déficit de transações correntes, o FMI elevou levemente suas projeções para este ano e para o próximo. Tal resultado negativo das contas internacionais do País, como proporção do PIB, subiu de 1,3% para 1,4% em 2017. E para 2018, o número aumentou de 1,7% para 1,8%.

Fiscal

O FMI ressalta que reformas fiscais, sobretudo a da Previdência Social, são essenciais para o bom desempenho do nível de atividade no longo prazo. “No Brasil, atacar despesas insustentáveis, através inclusive da reforma da Previdência Social, tem importância de primeira ordem para restaurar nível de confiança mais forte e promover expansão sustentável de investimentos privados”, destaca. “Para uma recuperação da economia mais rápida do que o esperado, mais ajustes fiscais antes do previsto pelo Orçamento poderiam ser justificados.”

De acordo com o Fundo Monetário Internacional, os esforços do Poder Executivo para tornar projetos de infraestrutura mais atraentes para o setor privado, com “melhora de padrões de governança e desenho de programas” podem ajudar a aliviar gargalos relevantes de oferta e atender a elevação recente da demanda.

O FMI destacou que vários países emergentes têm espaço para melhorar o clima de negócios e investimentos e citou o Brasil entre eles. “Ações decisivas para fortalecer a governança e o estado de direito ajudariam a controlar a corrupção, intensificando a confiança empresarial e oferecendo um reforço em investimentos para alguns países (por exemplo, Brasil, México, Peru).”

O Fundo também aponta que o Brasil, China e Índia podem elevar a produtividade da economia, “com a redução de tarifas e barreiras não tarifárias do comércio internacional”.

Cenário global

O FMI também elevou levemente as projeções para o crescimento mundial para 2017 e 2018, a primeira revisão para cima em seis meses para os dois anos, devido a um cenário pouco mais favorável para o nível de atividade global, como aponta o documento Perspectiva Econômica Mundial. Segundo o FMI, a previsão para o PIB mundial para este ano agora é de 3,6%, acima de 3,5% anunciada pela instituição multilateral em abril e em julho. Para o próximo ano, a estimativa passou para 3,7%, superior aos 3,6% divulgados também nos dois documentos anteriores.

“A melhora da atividade global que começou em 2016 ganhou força na primeira metade de 2017, refletindo crescimento da demanda doméstica mais firme em economias avançadas e na China e melhora do desempenho em outras grandes economias de mercados emergentes”, destacou o FMI. “A contínua recuperação dos investimentos globais estimulou a tornar mais forte a atividade industrial.”

Segundo o FMI, o volume do comércio internacional de mercadorias e serviços deve aumentar 4,2% em 2017, acima dos 4% estimados pela instituição em julho. Para o próximo ano, este indicador deve subir 4,0%, marca pouco superior aos 3,9% previstos há três meses.

O Fundo Monetário Internacional também elevou as projeções de crescimento dos Estados Unidos para 2017, de 2,1% estimados em julho para 2,2% agora. Para 2018, o PIB americano deverá avançar 2,3%, marca 0,2 ponto porcentual maior que os 2,1% projetados na revisão do documento há um trimestre. “Nos EUA, a fraqueza do consumo no primeiro trimestre foi temporária, com investimentos de empresas continuando a fortalecer, em parte refletindo uma recuperação do setor de energia.”

Segundo o FMI, a China deve crescer 6,8% neste ano e 6,5% em 2018, números superiores aos respectivos 6,7% e 6,4% projetados há três meses. De acordo com o Fundo, a melhora da estimativa para 2017 está relacionada ao desempenho da economia “melhor do que o esperado no primeiro semestre”, situação motivada por medidas para incentivar o nível de atividade e reformas para elevar a oferta.

Para o próximo ano, há a expectativa de que as autoridades do governo de Pequim “manterão políticas expansionistas, especialmente com elevados investimentos públicos, para atingir a meta de dobrar o crescimento real entre 2010 e 2020.”

O FMI também elevou as projeções de crescimento na zona do euro e Japão e destacou que na primeira metade deste ano a expansão de ambos foi causada em boa medida pelo “mais forte consumo privado, investimento e demanda externa.” O Fundo estima que a zona do euro avançará 2,1% em 2017 e 1,9% no próximo ano, marcas superiores a 1,9% e 1,7%, respectivamente, previstos em julho. No caso do Japão, a projeção para este ano é de 1,5%, acima de 1,3% divulgado há três meses, e de 0,7% para 2018, pouco maior que 0,6% anunciado em julho.

Segundo o Fundo Monetário Internacional, os mercados emergentes em geral continuam apresentando movimentos de recuperação, o que deve levar esta categoria de países a crescer 4,6% neste ano, mesma marca prevista em julho, e 4,9% em 2018, acima dos 4,8% previstos pelo documento Perspectiva Econômica Mundial há três meses. Tal cenário é explicado pela melhora do desempenho da atividade na China e de outros grandes países, como o Brasil e Rússia.

Fatores

As projeções macroeconômicas realizadas pelo FMI para diversos países consideram vários fatores fiscais e monetários.

No caso dos EUA, como o FMI avalia que a política fiscal será “amplamente neutra em 2017 e é projetada para apertar em 2018”, a política monetária deve ser “moderadamente mais acomodatícia do que era esperado antes”, dadas previsões de demanda mais fracas e menor pressão inflacionária. Para o Fundo, os juros no país devem ficar estáveis entre 1,0% e 1,25% até o fim de 2017 e devem “subir 75 pontos-base em 2018, alcançando uma taxa de equilíbrio de longo prazo levemente menor que 3% em 2020.”

Segundo o Fundo, as previsões para política monetária na zona do euro e Japão assumem que tais políticas continuarão muito acomodatícias. “As taxas (de juros) são avaliadas que permanecerão negativas na zona do euro durante 2018 e perto de zero no Japão no horizonte de previsão.”

Em relação à política fiscal, o FMI projeta que a influência para a economia global terá um peso neutro em 2017 e 2018. Neste ano, a gestão das contas públicas deverá estimular o nível de atividade no Canadá, Alemanha, Itália e Coreia do Sul, atuará de forma neutra nos Estados Unidos e Japão e será apertada na Espanha. Para 2018, as previsões do Fundo consideram moderada redução de gastos oficiais em economias avançadas, com destaque para o Japão, Reino Unido e em menor intensidade nos EUA.