A Flórida, às vezes chamada de “o estado mais grisalho” dos Estados Unidos em razão dos muitos idosos que se aposentam na região atraídos pelo clima subtropical, tem uma concentração alarmante de pessoas no grupo de risco do coronavírus.

Em Fort Lauderdale, três idosos que viviam em uma casa de repouso faleceram, informaram as autoridades e imprensa local nesta terça-feira. O condado de Broward está se tornando o epicentro do coronavírus na Flórida.

“Tudo é incerto, porque não sabemos como vai acabar ou quão ruim será”, diz Anita Lammersdorf, uma lituana-americana de 80 anos que ainda trabalha como corretora de imóveis.

Ela recebeu a AFP de sua porta, entre as orquídeas e poinsétias que prosperam nesse clima e a quatro metros dos jornalistas, como sugerem os especialistas.

Fora um marcapasso, não tem outras doenças. “Espero ter força suficiente para lidar com essa doença quando ela chegar”, afirma, falando da Covid-19.

Lammersdorf se aposentou em Delray Beach, 50 km ao norte de Fort Lauderdale, depois de passar grande parte de sua vida na capital, Washington, e na Venezuela.

Como ela, muitos aposentados do resto do país e do exterior escolhem esse estado do sudeste dos Estados Unidos como local de aposentadoria. Outros vivem aqui quatro ou cinco meses por ano para evitar o inverno do norte. São chamados de “aves migratórias” porque procuram calor.

O resultado é que a Flórida tem a maior proporção de idosos nos Estados Unidos: 20,5% de sua população tem mais de 65 anos, segundo um estudo de 2019 do Population Reference Bureau.

No ano passado, essa tendência foi levemente superada pelo estado do Maine, onde 20,6% de seus 1,3 milhão de habitantes têm mais de 65 anos. Mas a Flórida tem uma população total de 21 milhões, e 1,1 milhão deles têm 80 anos ou mais.

“Os dados demográficos da Flórida são únicos no país. Temos uma grande proporção de pessoas com mais de 50 anos”, diz Jeff Johnson, diretor da AARP, uma organização sem fins lucrativos que ajuda pessoas idosas na Flórida.

Alguns residem em casas de repouso, mas a grande maioria é independente e vive em comunidades projetadas especialmente para a terceira idade.

São bairros grandes – ou mini cidades – com campos de golfe, quadras de tênis, lojas e clubes sociais onde os vizinhos se reúnem para jogar bridge, ler poesia ou fazer artesanato.

Essas chamadas “comunidades para idosos” geralmente impõem um limite de idade para seus moradores – ninguém com menos de 55 anos pode se mudar para lá – e suas ruas costumam ter canais especiais para carrinhos de golfe, que é o meio de transporte favorito para os idosos da Flórida.

– Locais em risco –

Agora, todos são mais vulneráveis ao novo coronavírus, que causou o fechamento de fronteiras e o confinamento de milhões de pessoas em todo o mundo.

O risco de morte é baixo, exceto para pessoas com problemas de saúde e para aqueles com mais de 60 anos de idade.

Um relatório da Organização Mundial da Saúde indica que a taxa de mortalidade em pessoas com mais de 80 anos é de 21,9%.

“Existem floridianos em todo o estado que se encontram nas categorias de risco”, afirma Johnson à AFP. “Temos um grande número de pessoas que se aposentaram aqui de outras partes do país, mas outras sempre viveram aqui”.

“E embora existam dezenas de milhares em casas de repouso, há milhões de outros moradores que vivem relativamente felizes em suas comunidades. Obviamente, temos que prestar atenção a eles também”, acrescenta.

Em uma comunidade residencial para pessoas com mais de 55 anos em Pompano Beach, vizinha de Fort Lauderdale, no condado de Broward, duas canadenses de Quebec procuram encarar a situação com bom humor. São duas “aves migratórias” na casa dos 70 anos.

“Isso vai demorar e será grave, muito grave”, diz Denise Bedard. “Mas estamos com boa saúde e lavamos as mãos da maneira correta”.

As autoridades da Flórida ordenaram a restrição de visitas a casas de repouso e comunidades como a de Bedard e estão tomando medidas de distância por conta própria.

Na Flórida, 216 residentes foram diagnosticados com Covid-19. A maioria está em Broward. Seis morreram.

“Só falta esperar. Mas estou preocupada. Estou preocupada com todo mundo. Tentando ser o mais cuidadosa possível”, diz Lammersdorf.