Florianópolis, em Santa Catarina, tem um quê de São Francisco, a cidade americana que virou capital mundial da tecnologia. As semelhanças começam no visual ? ambas têm como cartão postal belas pontes construídas em estruturas metálicas ? e prosseguem na vocação econômica. Em torno da Hercílio Luz, a versão catarinense da Golden Gate californiana, tem crescido, nos últimos anos, uma espécie de Vale do Silício brasileiro, guardadas as devidas proporções. Ali, já nos anos 80, surgiram as primeiras incubadoras nacionais de empresas de tecnologia, agora disseminadas em todo o País com a explosão da Internet. Com o incentivo do governo local e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), elas criaram ambiente para uma explosão empreendedora. Hoje, o Estado conta com mais de 2,5 mil companhias de base tecnológica. Somente uma das incubadoras, a Celta, já fez nascer cerca de 120 empresas, que no ano passado faturaram R$ 50 milhões. ?Foi a forma que encontramos para incluir Santa Catarina no mapa mundial da tecnologia?, diz o diretor da Fundação de Ciência e Tecnologia (Funcitec), Honorato Antonio Tomelin.

A estratégia vem dando certo. Novos projetos continuam surgindo em ritmo acelerado, mantendo em frenética atividade as oito incubadoras do Estado. Hoje considerada pela ONU a melhor capital brasileira em qualidade de vida, Florianópolis acabou importando empresas e mão-de-obra especializada em informática e exportando sua vocação tecnológica para outras regiões. Joinville, por exemplo, tornou-se a capital brasileira do ERP, os programas de gestão empresarial ? lá estão as sedes da Datasul e da Logocenter, as duas maiores do País no setor. Já em Blumenau, antes conhecida apenas pela pujança de suas indústrias têxteis, a indústria de informática abriu 3 mil novos empregos em cerca de 300 companhias de vários portes. ?Blumenau tem hoje mais empresas de software que padarias?, costuma brincar o governador Espiridião Amim.

Ar tecnológico. Na esteira do governo, entidades industriais e companhias com tradição passaram a apoiar projetos para criação de um pólo de empresas voltadas para a tecnologia. ?Criamos espaço e um modelo para que os novos empreendedores desenvolvessem seus projetos?, conta Geraldo Faraco, um dos sócios da Dígitro, fabricante de equipamentos e programas para telecomunicações. Uma das poucas companhias nacionais do setor que não foram engolidas pelos grandes fabricantes multinacionais, a Dígitro cresceu nesse ambiente e hoje é dona de um faturamento de R$ 26 milhões. Ela é produtora de um dos softwares mais utilizados pelas centrais de informações das companhias telefônicas ? a voz gravada que os usuários do serviço ouvem é da secretária da diretoria da empresa, Maria Antonia Alves.

Contaminada pelo ar tecnológico, Florianópolis também convive com as altas temperaturas da febre da Internet. Lá, por toda parte há empreendedores sonhando em transformar um pequeno negócio que funcionava em um quarto de dormir em uma companhia milionária. O caso mais recente se chama Paradigma, uma empresa que com pouco mais de dois anos já é conhecida no crescente mercado de e-commerce. Fundada por dois amigos de infância, Jaime Leonel de Paula Júnior e Gérson Maurício Schmitt, a Paradigma vem ganhando projeção nacional pelo volume de portais que criou. ?Em apenas 90 dias colocamos no ar seis sites e nossa meta é chegar a dez por mês?, diz Schmitt, sócio e diretor comercial da companhia, que espera faturar R$ 5 milhões este ano.