A agência de classificação de risco financeiro Fitch reduziu nesta sexta-feira a nota de risco soberano do Brasil, de BB a BB- com perspectiva estável, depois do fracasso das negociações para a reforma da Previdência, considerada essencial para sanar o déficit público.

Esta é a segunda redução de classificação da dívida brasileira recentemente. Em janeiro, a S&P Global Ratings reduziu a nota da dívida brasileira para BB-, citando motivos similares.

A notícia não conseguiu, entretanto, alterar a Bovespa, que fechou com alta de 0,76%, a 87.341,96 pontos, um recorde histórico.

“A redução [da nota] do Brasil se deve a seus persistentes e amplos déficits, ao elevado e crescente peso da dívida do governo e ao fracasso para legislar com reformas que melhorem os resultados das finanças públicas”, explicou a Fitch em um comunicado.

A agência questiona a viabilidade da reforma, a poucos meses das eleições presidenciais e legislativas de outubro, que ainda não têm nenhum candidato do agrado do mercado.

Esse calendário “significa que a reforma da Previdência será abandonada até depois das eleições e há incerteza sobre a capacidade do próximo governo de garantir sua aprovação de forma oportuna”, acrescenta.

O Ministério da Fazenda emitiu um comunicado durante a tarde no qual alega que a dívida pública federal brasileira “conta atualmente com uma composição saudável, reduzida exposição cambial e baixa concentração de vencimentos no curto prazo”.

A nota também destaca que o governo “segue comprometido em progredir com a agenda de reformas macro e microeconômicas destinadas a garantir o equilíbrio das contas públicas, crescimento econômico sustentável e contínua melhoria do ambiente de negócios”.

O presidente Michel Temer conseguiu impor medidas de ajuste econômico que agradaram os mercados, como o congelamento dos gastos públicos durante 20 anos e a flexibilização da legislação trabalhista.

Contudo, o governo federal não conseguiu alcançar a maioria de votos suficiente para aprovar a reforma da Previdência no Congresso.

– Bolsa não se abala –

A Bovespa chegou a cair 0,5% após o anúncio, mas se recuperou durante a tarde e fechou pela oitava sessão consecutiva em alta. Desde o começo do ano, o Ibovespa se valorizou 14,26%.

A Fitch colocou o Brasil no “seleto grupo de países como Bolívia, Seicheles, Geórgia, República Dominicana, Bangladesh e Vietnã”, com uma nota BB- que “era o rating da Argentina antes do seu colapso em 2001”, mas os mercados não pareceram se abalar, ironizou em nota de análise o economista André Perfeito, da Gradual Investimentos.

Muitos analistas acreditam que o mercado já esperava a possibilidade de ter a nota rebaixada, depois da decisão da S&P.

Perfeito estima que isso se deve em parte porque “os ativos financeiros brasileiros oscilam antes por conta de motivos externos do que por motivos domésticos”, porque “O Brasil é visto como um ‘fazendão’, por assim dizer, intimamente ligado à exportação e commodities e nossa moeda (é) atrelada ao preço de bens primários”.

Além disso, “o mercado acredita que algum candidato a presidente viável eleitoralmente poderá dar continuidade às reformas, hipótese essa que acho ingênua dadas as pesquisas recentes de intenção de voto (…), sem contar todos os desafios como o provável colapso da máquina pública no ano que vem”, alertou.

A Fitch destaca que o governo cumpriu suas metas de déficit fiscal primário (antes do pagamento de juros da dívida) em 2017 e que o déficit geral do governo representou 8% do PIB nacional. Contudo, em 2018 e 2019 suas previsões apontam para um déficit de “pouco mais de 7%”, enquanto a média de outros países com nota BB é de 3%.

Já dívida pública do Brasil chegou a 74% do PIB em 2017 e deve alcançar 80% em 2019, enquanto nos países com classificação BB a média é de 45% do PIB, aponta.