A diretora da Fitch para ratings soberanos da América Latina, Shelly Shetty, afirmou nesta terça-feira, 13, que a perspectiva para o Brasil é negativa, pois apresenta alguns riscos, como o ritmo de retomada do Produto Interno Bruto. “O PIB deve crescer 2,5% em 2018, o que não é muito diante da profunda recessão que o País enfrentou”, destacou. “A recuperação da economia dependerá no futuro próximo de avanço de reformas fiscais”, apontou. Ela fez os comentários em palestra promovida pela Fitch em Nova York.

A diretora da agência acrescentou que a dívida bruta do Brasil como proporção do PIB está em cerca de 75% e permanece em trajetória de expansão. “E há um quadro fiscal desafiador, pois não há avanço da reforma da Previdência Social”, observou.

Shelly Shetty ressaltou que a instituição já havia reafirmado em novembro o rating BB do Brasil com perspectiva negativa devido a vários fatores. “O País está saindo de grande recessão, apresenta desempenho favorável de contas externas e a inflação caiu”, disse.

Segundo ela, a redução consistente dos índices de preços ao consumidor permite a reconquista da credibilidade da política monetária administrada pelo Banco Central. “Além disso, o setor externo tem bom desempenho, com déficit de conta corrente menor do que 1% do PIB em 2017.”

Eleições presidenciais

Shelly Shetty afirmou que o ciclo político no Brasil neste ano apresenta desafios, sendo que um deles é que as eleições presidenciais têm ainda uma perspectiva imprevisível, pois ainda não está claro quem serão os principais candidatos. “Um cenário construtivo seria a vitória de candidato de centro que avançaria nas reformas fiscais”, comentou.

Segundo Shelly, o ano eleitoral pode gerar volatilidade em ativos financeiros, mas ela ressaltou que o Banco Central tem flexibilidade para lidar com esta questão, sobretudo devido ao regime de câmbio flutuante, inflação baixa e elevado volume de reservas internacionais.

Na avaliação da diretora da Fitch, se a reforma da Previdência Social não for aprovada neste ano, aumentará a importância da consolidação fiscal a partir do primeiro ano de mandato do próximo presidente da República. “Ele precisará mostrar liderança a partir de 2019 para avançar as reformas fiscais, especialmente porque o Congresso deverá ter um conjunto fragmentado de forças políticas”, disse.

Segundo Shelly Shetty, sem a aprovação da reforma da Previdência pelo Congresso brasileiro será difícil o teto de gastos ser eficiente no médio prazo.

“A credibilidade fiscal do Brasil pode ser minada sem a reforma da Previdência, que é importante, pois o setor é responsável por quase 45% dos gastos primários do governo”, disse.

Desafios

Para Shelly Shetty, o Brasil enfrenta uma situação favorável para lidar com três potenciais desafios no curto prazo. “Um deles seria a recuperação da Petrobras, mas a companhia tem caixa confortável e a dívida está sob controle”, comentou.

Segundo Shelly, o setor bancário no Brasil está sólido e os bancos públicos, com destaque para o BNDES, reverteram políticas de crédito registradas pelo governo anterior. “Na área das finanças regionais, alguns Estados tiveram dificuldades fiscais, mas o governo federal ajudou e o problema é administrável.”