O encarecimento de alimentos, medicamentos e nas tarifas de integração do transporte urbano deve elevar a taxa de inflação na capital paulista. Em razão dessas pressões esperadas ao longo deste mês, o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), André Chagas, revisou a projeção para a alta do IPC de abril de 0,42% para 0,57%. “O principal motivo da revisão na projeção deve-se ao aumento nas tarifas de integração em São Paulo”, diz.

Ele ressaltou, no entanto, que os conjuntos de preços de Alimentação e de Saúde ajudam a explicar a alteração na estimativa para o IPC deste mês que, se confirmada, ficará maior que a alta de 0,46% apurada em abril de 2016, mas inferior à de 0,14% registrada em março de 2017. Por enquanto, a expectativa para o IPC fechado deste ano prossegue em 4,26%.

“Alimentação seguirá pressionado pelos in natura, enquanto o grupo Transportes será puxado pela liberação do reajuste nas tarifas de integração de ônibus, metrô e trens. Já em relação ao grupo Saúde, prevalecerão os aumentos em medicamentos e em contratos”, explica.

Nos cálculos da Fipe, os reajustes liberados esta semana pela Justiça para o transporte integração na capital paulista devem ter impacto de até 0,17 ponto porcentual no IPC, distribuído entre o dado de abril e o de maio.

Medicamentos

Chagas acredita que o reajuste médio de 4,76% autorizado para os preços de medicamentos deve ser repassado quase que integralmente este mês ao aos consumidores, na contramão do que normalmente acontece em outros momentos. Em 2016, exemplifica, do aumento permitido de mais de 12%, apenas 40% do efeito fora repassado ao IPC de abril, e outra parte em maio. Já para este ano, a estimativa é de repasse é de 80% só este mês.

Ele acredita que um dos motivos seja o fato de o reajuste este ano ser inferior ao de 2016, o que pode fazer com que o setor opte por transferir o aumento o quanto antes.

Na primeira leitura de abril, remédios e produtos farmacêuticos ficaram 0,63% mais caros, depois de 0,32% no fim de março. Já contrato de assistência medica subiu 1,23%, na comparação com 1,07% anteriormente. O grupo Saúde, por sua vez, ficou em 0,87% (de 0,72%).

A expectativa é que este conjunto de preços feche o mês em 1,80%, enquanto para Transportes a previsão é de alta de 0,34%, ante recuo de 0,61% na primeira medição de abril. Em março, a taxa deste grupo foi de queda de 0,49%.

Alimentação

Já o conjunto de preços de alimentos deve encerrar abril em 0,88%. Se a projeção for confirmada, será parecida com a de 0,84% da primeira quadrissemana, e maior que a de 0,34% no término de março. “O aumento nos preços dos alimentos in natura é a principal causa da previsão de alta para o grupo”, argumenta.

O segmento de alimentos in natura mostrou alta de 4,15% na primeira quadrissemana, depois de 1,54% no fechamento de março. Com exceção de frutas (de -1,22% para -1,23%) e verduras (de -4,37% para -3,94%), todos as categorias de in natura ficaram mais caras. Os legumes tiveram alta de 24,59% na primeira quadrissemana, depois de 12,51%, com destaque para o aumento de 58,47% do tomate (ante 25,41%), pimentão (de 11,66% ante 9,41%) e abobrinha (de 14,25% ante 10,70%). “O tomate já está subindo 102% no ponta (pesquisa recente)”, diz, ao adiantar que o produto ainda vai continuar caro na cidade de São Paulo.

Os tubérculos subiram 3,39%, na comparação com 0,68%, sendo a batata o principal exemplo, com alta de 7,63%, depois de 2,37% no fim de março. Os ovos tiveram alta de 2,42%, na comparação com 3,36% anteriormente. Já os gastos com Alimentação fora de casa subiram 0,58%, em relação à taxa de 0,45%. “O jeito é trocar a salada pela carne de frango”, recomenda Chagas.

Os preços do frango inteiro tiveram queda de 3,72% na primeira leitura do mês, depois de caírem 3,89% no fechamento de março, enquanto a carne bovina subiu 0,42% no período (de alta de 0,05%). Já a salsicha teve recuo de 1,34% nos preços, após declínio de 0,26%. “Neste caso, pode ter efeito da Carne Fraca”, afirma, ao referir-se aos preços de salsichas. “Já o encarecimento em carne bovina já pode estar refletindo a cobrança de ICMS este mês em SP.”

Os preços semielaborados cederam 0,10%, na comparação com declínio de 0,31% no fim do mês passado, enquanto os industrializados desaceleraram para 0,12%, depois de 0,19%. “Houve aumento forte em cafés (6,81%), mas queda de mais de 1% em açúcar. De modo geral, os industrializados estão bem comportados”, afirma.

Conte de luz

Por questão de diferença metodológica, o efeito de queda da cobrança indevida de Angra 3 nas contas de luz só será sentido no bolso do consumidor na capital paulista em maio, diferentemente dos demais IPCs, cujo efeito é esperado para este mês. Com isso, o impacto da bandeira vermelha (com adicional mais elevado nas contas) deve prevalecer sobre o IPC de abril, segundo Chagas. A expectativa da Fipe é que o grupo Habitação termine o mês em 0,38%, depois de 0,32% na primeira quadrissemana.