Foi um longo caminho percorrido. Em 1997, a taxa Selic, os juros básicos da economia, foi elevada a estratosféricos 45,67% ao ano. Numa tendência de longo prazo, com alguns picos pelo caminho, ela caiu pelos 22 anos seguintes, até atingir 10% daquele valor na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste ano. O corte em 0,5 ponto, na quarta-feira 11, levou a Selic a um novo recorde de baixa da história do Brasil. Tendo estabelecido um patamar histórico, a dúvida agora é se haverá espaço para mais quedas.

Para as primeiras reuniões de 2020, as expectativas são menos consensuais do que eram para a decisão da última semana. Muitos analistas esperam que a taxa possa ir a 4,25%, mas que dificilmente será inferior a 4%, como era considerado até outubro. Novas pressões cambiais e inflacionárias – mesmo que circunstanciais, como o preço da carne – indicam que o Banco Central, liderado por Roberto Campos Neto, será mais cauteloso em 2020. “É possível que o Copom mantenha a taxa na próxima reunião e depois, na seguinte, corte para 4,25%”, diz Felipe Sichel, estrategista do banco digital Modalmais. “Assim, ele terá tempo de coletar mais dados sobre os impactos da baixa de juros. Na prática, só descobrimos se o ciclo de baixa terminou quando ele, de fato, acaba.”

Em seu comunicado, o Copom enfatizou que “seus próximos passos dependem da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”, mas indicou que a economia ganhou tração e deixou de considerar “incerto” o cenário externo. A mediana das projeções para 2020 da Anbima, associação das entidades do mercado financeiro, indica que a Selic vá a 4,25%, mas as estimativas variam entre 4% e 5%. O Boletim Focus, divulgado pelo BC, prevê a Selic em 4,5% ao fim de 2020 e depois uma maior alta para 6,25%, em 2021, e 6,5%, em 2022.

O baixo patamar brasileiro, assim como o fim iminente de um ciclo de quedas, reflete uma tendência mundial de juros. Em diversos países os juros já são considerados negativos, por estarem abaixo da inflação. Nos EUA, na mesma quarta-feira 11, o Federal Reserve manteve a taxa entre 1,5% e 1,75%, depois de três cortes seguidos. Também indicou que não mudará as taxas no próximo ano. “O único risco é que, já que o crescimento desacelerou, qualquer choque pode levar a economia para o terreno negativo”, diz Sichel. De qualquer forma, as expectativas econômicas para o mundo são melhores do que no começo deste semestre, quando se previa recessão global para 2020, em vez de apenas uma desaceleração.

No Velho Continente, o Banco Central Europeu também manteve, na quinta-feira 12, os juros inalterados, em primeira reunião depois que a francesa Christine Lagarde assumiu o comando da instituição. A taxa de depósito permanece negativa em 0,50%, a de empréstimos fica em 0,25% e a de refinanciamento está em 0%.