Mergulhado em uma crise histórica, com os preços muito baixos, o setor açucareiro prevê uma melhoria para o fim de 2019, mas o alcance da recuperação divide o mercado.

– Por que os preços caíram?

Dois fatores principais levaram à queda dos preços. O fim das cotas europeias de açúcar em outubro de 2017 e o consequente aumento da produção levaram o mercado europeu a ter um excesso de oferta. Além disso, especialistas destacam que dois grandes produtores também ampliaram a quantidade de mercadoria disponível no mercado mundial desde 2017 e 2018.

O primeiro é a Índia, que produzia entre 22 milhões de toneladas (Mt) e 28 Mt, e “nos últimos anos (produz) 32 Mt, 33 Mt”, explica Xavier Astolfi, diretor adjunto do grupo Cristal Union, segundo maior do setor açucareiro francês.

A Índia se tornou o maior produtor mundial, à frente do Brasil. Este avanço da produção foi estimulado pelo governo, com um “programa de desenvolvimento agrícola muito forte, do qual a cana de açúcar faz parte”, para “estabilizar as populações rurais” e evitar a migração para as grandes cidades indianas.

O segundo país é a Tailândia, cuja produção foi de 5 Mt para quase 15 Mt em 20 anos.

“A Tailândia colocou em execução todo um sistema que permitiu desenvolver a indústria açucareira, por meio de empréstimos para investimento, licenças para construção e subvenções diretas”, explica Astolfi.

O objetivo seria se tornar fornecedor de açúcar para toda a região, com a China no norte e a Indonésia e a Malásia no sul.

– Como está a situação?

Na Europa, o mercado do preço corrente, ou spot, “trabalha com 400 euros por tonelada, o que é um aumento de 35% em relação ao nível do ano passado na mesma data”, reflexo de uma recuperação, segundo Alexis Duval, presidente da direção da Tereos, maior empresa açucareira francesa.

Além disso, está prevista para o setor uma produção deficitária em relação ao consumo mundial. A firma Agritel estima um déficit de 3 Mt a 4 Mt.

“Mas não se deve perder de vista que a oferta continua segundo significativa”, destaca François Thaury, analista da Agritel, que lembra que as reservas estão em níveis “históricos”.

– O que se espera da próxima safra?

A União Europeia pode ter um leve aumento da produção, devido ao rendimento melhor, que compensa uma redução das superfícies. Contudo, “se prevê que o Brasil, que já reduziu muito sua produção no ano passado para fazer muito etanol e menos açúcar (…) vai manter esta produção em nível bem próximo”, explica Thaury.

A Índia “teria, dentro da lógica, que reduzir sua produção, porque houve uma monção no ano passado que não foi boa para a região de produção”, no estado de Maharashtra. A Tailândia também deve diminuir sua produção, de acordo com Thaury.

Para o diretor da Tereos, Alexis Duval, a recuperação é inevitável: “a verdadeira pergunta é a a partir de quando esses fundamentos se refletirão nos preços”.

Mas o volume de reservas acumuladas nos últimos anos é tão grande que “mesmo se voltar ao déficit, é pouco provável que vejamos os preços subirem de forma extremamente violenta”, estima Thaury.