Não resistiu nem à lua-de-mel o casamento entre as duas maiores indústrias nacionais de alimentos. Tudo indica que Sadia e Perdigão vão mesmo desfazer a sociedade na BRF Internacional Foods, empresa que deram à luz juntas no ano passado para reforçar suas exportações de carne de frango e porco para o Leste Europeu e a Ásia. Nenhuma das duas fala abertamente sobre o assunto. Por meio de sua assessoria, Luiz Gonzaga Murtat Júnior, diretor-financeiro da Sadia, mandou dizer que ?o assunto BRF continua em discussão entre os sócios?. Mas um alto executivo da Perdigão admitiu à DINHEIRO que o matrimônio está indo para o vinagre: ?A cultura das empresas é muito diferente. Não vai dar?.

Um dos namoros mais improváveis do mundo corporativo brasileiro teve início no ano 2000. Rivais históricas, Sadia e Perdigão se aproximaram para reverter o cenário ruim de suas vendas no exterior. A sobreoferta provocara queda de 20% nos preços do frango brasileiro. Buscar mercados ?não consolidados? (Japão, Hong Kong, Cingapura e Rússia) podia ser a saída. Mas desbravar território desconhecido representava custos que nenhuma das duas cogitava fazer individualmente. Foi aí que começou o flerte. Menos de um ano depois, nascia a BRF.

Diferença cultural. Na época, as recém-casadas falavam em vendas de US$ 150 milhões e 120 mil toneladas em 2002. A meta era faturar US$ 500 milhões em 2007. No primeiro semestre deste ano, as exportações da Perdigão para Rússia e Eurásia triplicaram. A Sadia, em seu relatório, informa que as vendas externas de carne suína e de frango aumentaram, respectivamente, 73% e 10%, ?principalmente pela consolidação dos negócios com a Rússia?. Ou seja, aqueles feitos via BRF, que no período faturou US$ 97 milhões. Por que então o divórcio iminente?

Para alguns analistas, pesa mesmo a diferença cultural entre as duas. A Sadia exporta diretamente para o varejista e gosta de cevar os seus clientes. A Perdigão prefere negociar com traders e vender muito em pouco tempo. Mas há outras especulações. ?A Sadia topou essa sociedade porque pretendia comprar a Perdigão?, diz um freqüentador das reuniões em que as companhias divulgam os seus resultados. ?E a Perdigão estaria disposta a tocar a BRF com outro sócio.? As empresas não se pronunciaram sobre isso.

O fim da BRF representará sérios problemas, pois as perdas não poderão ser compensadas na União Européia, que elevou a alíquota sobre o frango importado de 15% para 75% para quem não se adequar a uma nova quantidade de sal exigida para o produto. ?Sadia e Perdigão sentirão uma queda considerável nos seus volumes embarcados para a Europa?, avalia Basílio Ramalho, analista do Unibanco. Só que essa talvez seja uma questão para ser resolvida em casas separadas.