O talento desses chefs vem de berço. Eles estão à frente das cozinhas de alguns dos mais badalados restaurantes brasileiros e, analisando suas histórias, fica fácil entender por que dificilmente escapariam das caçarolas. 

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Thomas, Thiago, Samantha, Cássio e Rodrigo sempre gostaram de visitar seus pais no trabalho e isso significava passar horas admirando a sinfonia nervosa de talheres e panelas de uma cozinha. “Quando era adolescente, cheguei a pensar no futebol, mas a vocação familiar falou mais alto”, confessa Thomas Troisgros, bisneto de Jean Baptiste, neto de Pierre, filho de Claude e sobrinho de Michel, todos chefs franceses renomados mundialmente.

 

 Thomas conta que a principal lição que aprendeu com os parentes famosos foi respeitar os produtos da terra. “Meu avô passou para meu pai e ele me transmitiu: o mais difícil é ser simples”, resume Thomas, que hoje está à frente da cozinha do restaurante 66 Bistrô, no Rio de Janeiro – um dos três endereços da família Troisgros no Brasil.

 

A gastronomia é a disciplina principal que esses jovens chefs dizem ter aprendido com seus mentores, mas eles revelam que as lições vão além da cozinha. 

 

“Aprendi com meu pai tudo o que sei hoje: desde a combinação de especiarias nos pratos à administração do restaurante e dos funcionários”, diz Thiago Sodré, chef do restaurante de comida tailandesa Sawasdee, do Leblon, no Rio de Janeiro. 

 

Isso mostra que a culinária pode ser um interesse comum e aproximar ainda mais pais e filhos, que podem comemorar o dia dos pais em seu ambiente preferido: a cozinha.

 

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Thiago lembra que cozinhou pela primeira vez aos 12 anos. “Fiquei em casa assistindo ao programa da Ana Maria Braga, em que ela ensinava a fazer costelinha de porco ao molho barbecue. Liguei pra minha mãe, pedi para ela comprar os ingredientes e falei: hoje quem vai fazer o jantar sou eu! Foi um sucesso”, diverte-se.

 

“Fui seduzida a entrar no mundo da gastronomia pela minha mãe”, recorda Samantha Aquim, que comanda a cozinha da Aquim Gastronomia. Filha de Luiza, que sempre estimulou a verve artística dos filhos, Samantha diz que foi arrastada para uma viagem que conciliava turismo e aulas de gastronomia, na Itália. 

 

“Mas, a partir do segundo dia, era eu quem acordava minha mãe para não chegarmos atrasadas nas aulas.” A chef conta que se formou em psicologia e chegou a trabalhar em empresas multinacionais na área de recursos humanos, mas o coração falou mais alto. 

 

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“A cozinha sempre foi ponto de encontro na minha casa e o lugar preferido da minha mãe. Percebi que não escaparia da profissão quando, durante uma viagem com os amigos, preferia ficar à frente do fogão em vez de tomando sol à beira da piscina”, diz.

 

Além do talento para criar pratos, a alma empreendedora também pode ser herdada. Que o diga Cássio Machado, dono do Ringue Lounge e do Farofa Paulista e sócio no restaurante Di Bistrot, todos em São Paulo. 

 

Ele é filho de Aderval Machado, que comandou de 1969 a 1975 a cozinha do tradicional Terraço Itália, em São Paulo, e saiu de lá para abrir seu próprio restaurante. 

 

“Quando completei 18 anos, não ganhei um carro do meu pai, mas um restaurante”, brinca Cássio. “Não deu certo. Eu era muito imaturo. Desde então passei por várias cozinhas.” E também começou diversos empreendimentos, como o B&B Burguer, a danceteria Cha Cha Cha e os três pontos que comanda hoje,  com a ajuda de Aderval. 

 

 

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“A troca de experiência com o meu pai é uma aula. Aprendi técnicas clássicas de cozimento e de molhos e caldos. Ele me ensinou sua filosofia na cozinha: a de que nada se perde, tudo se transforma.” 

 

Admiração também é o principal sentimento que move Rodrigo Oliveira, que transformou o Mocotó, restaurante fundado por seu pai, o “seu” Zé Almeida, em um restaurante que está se tornando referência da gastronomia brasileira lá fora. “Meu pai é meu herói.

 

Cozinho mais para agradar a ele do que à crítica ou aos clientes. Ele é a única pessoa de quem ainda não ganhei um elogio”, brinca Rodrigo. O jovem chef conta que “seu” Zé, que criou o caldo de mocotó que hoje dá nome à casa, é a pessoa mais trabalhadora e hospitaleira que conhece. “Ele está aqui da hora que abrimos até quando fechamos as portas, e olha que tem 72 anos. Isso é um exemplo pra mim e vejo que a cozinha exige uma entrega completa.” 

 

O pai de Rodrigo migrou do Nordeste para São Paulo, na adolescência, e fundou um empório. Aos poucos, começou a servir alguns pratos, entre eles o famoso caldo. O sucesso da iguaria levou seu Zé a inaugurar o restaurante há 35 anos. “Meu pai sempre foi um cozinheiro muito intuitivo. Não segue receitas, segue o coração. Eu sou igualzinho”, conta o chef.