A queda da taxa básica de juros, a valorização da renda variável, principalmente da bolsa de valores, e a inflação estável e abaixo do centro da meta deram um nó na cabeça do investidor: o que fazer com os ativos de renda fixa? Será que passou da hora de vender tudo e partir para opções mais arriscadas e rentáveis? Não é bem assim. Com a Selic na casa de um dígito (a previsão é fechar o ano com 7% ou menos) por um período consistente, ficou mais difícil conseguir um retorno de 1% ao mês.

Nesse novo cenário macroeconômico, não há mais espaço para deixar o dinheiro parado, descansando e rendendo sem esforço. Mas isso não significa que a renda fixa tem de ser abandonada. Agora, o investidor terá de abrir mão da liquidez ou aceitar um pouco de risco para conseguir um retorno próximo àquele que estava acostumado. “O que acabou foram as taxas altas, mas a renda fixa tem de estar na carteira do investidor”, diz Mauro Calil, especialista em investimentos do Banco Ourinvest e fundador da Academia do Dinheiro. “Uma taxa de remuneração, líquida e real, de 4% ao ano é bastante interessante. Em termos globais, então, nem se fala.”

Para conseguir essa rentabilidade, o investidor precisa estar disposto a correr um pouco mais de risco. Sim, a renda fixa também tem os seus imponderáveis. Alguns são de baixa probabilidade, como um calote na compra de títulos públicos do Tesouro Nacional, mas outros podem estar expostos aos riscos de mercado e de crédito. São os casos dos Certificados de Recebíveis Imobiliários, Agrícolas (CRI e CRA, respectivamente) e as debêntures, ou seja, um título de dívida emitido por uma empresa.

Essas opções são ideais para quem está num fundo de renda fixa com taxa de administração acima de 1,5%. É provável que, neste momento, a rentabilidade esteja abaixo da poupança. “O planejamento financeiro precisa estar cada vez mais presente na vida do brasileiro”, afirma Calil. “O custo é morrer pobre por não ter formado a poupança ideal.” Debêntures ligadas à infraestrutura vão dominar o mercado de renda fixa até 2020. Cálculos da XP Investimentos mostram que as emissões para os setores elétrico, rodoviário, aeroportos, portos e ferrovias podem chegar a quase R$ 40 bilhões.

Dívida em alta: títulos emitidos por empresas de infraestrutura, como as do setor de energia e rodovias, devem se aproximar de R$ 40 bilhões até 2020 (Crédito:Luis Moura/AE e Divulgação)

Atualmente, há, pelo menos, 10 opções de ativos acessíveis com aporte mínimo de R$ 1 mil e a captação concentrada na primeira quinzena de outubro (veja quadro). A expectativa é que o retorno varie de 105% a 118% do CDI, dependendo do prazo de vencimento do título. “Todas as opções pagam muito melhor do que os fundos dos bancos”, diz Rogerio Manente, gerente do home broker da Socopa. “O investidor precisa deixar essas taxas magras. E as maiores são fáceis de encontrar.” Ao contrário da maior parte dos fundos, que permitem saques diários, esses ativos de renda fixa exigem que o investidor abra mão da liquidez.

Com um bom planejamento financeiro, é possível “esquecer” o dinheiro enquanto ele engorda. Mas é preciso ficar atento. Enquanto os fundos de investimento cobram uma taxa de administração para avaliar os riscos desses ativos, a escolha de uma debênture, por exemplo, exige um cuidado maior do investidor. É preciso saber qual é a saúde financeira da empresa, qual é o projeto que usará os recursos que estão sendo captados e as garantias existentes caso dê algo errado. Essas informações são fundamentais para saber se o dinheiro que está sendo emprestado para uma expansão do negócio não vai ser direcionado a uma empresa com dificuldade de tomar crédito no mercado por estar à beira da falência.

Se essas opções já fazem parte da sua carteira ou se você achou um tanto arriscado comprar esses títulos, há uma opção que os gestores indicam como um passo intermediário entre a renda fixa e a variável: os fundos de investimento imobiliário. Eles são classificados como renda variável, em razão da variação da cota, mas têm características de renda fixa por entregar um retorno mensal ao investidor. Além disso, eles agradam por estarem ligados ao mercado imobiliário. Mas é preciso prestar atenção no valor da cota. Caso a compra acontece com o que os analistas chamam de cota fora de preço, a rentabilidade pode cair de 1% ao mês para 0,7% ou 0,5%. Neste momento, o FII Vinci Shopping Centers está aberto para captação, com valor mínimo de R$ 100. “Para quem precisa de uma renda, há um fluxo periódico, por isso a característica da renda fixa”, afirma Manente.