A queda na taxa do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) em setembro levou o coordenador do indicador da Fundação Getulio Vargas (FGV), Paulo Picchetti, a diminuir a expectativa para o dado fechado deste ano. “Inicialmente, esperávamos alta na faixa de 0,30%, mas depois alteramos para perto de zero. Isso força revisão na projeção para o ano de 3,7% para 3,4%”, explica. Caso a estimativa seja confirmada, será a menor taxa da série histórica da FGV, iniciada em 2002.

“Se o próprio IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) ficar nessa linha, será a primeira vez que o Banco Central terá de escrever a carta ao ministro da Fazenda para justificar o descumprimento por inflação muito baixa”, ressaltou Picchetti.

Segundo ele, isso seria, em princípio, um sinal de alerta de que a política monetária estaria no sentido equivocado. Picchetti pondera que, apesar de a inflação estar baixa em razão do desempenho ruim da atividade, já há sinais de retomada econômica. “De um lado, a queda de juros está respondendo a esse quadro de desinflação. De outro, a atividade vem melhorando.”

A tendência, conforme o economista, é que esse cenário de inflação favorável perdure em 2018, ainda que em nível aquém do previsto para 2017. Um exemplo que reforça tal estimativa, disse, é a medida de núcleo do IPC-S.

Em setembro, a taxa do núcleo ficou em 0,28%, acumulando 3,63% em 12 meses. Esse patamar é superior ao de 3,17% do IPC-S em 12 meses terminados em setembro. “Desde novembro do ano passado, a variação do núcleo em 12 meses está maior que a do IPC-S. Isso dá uma boa ideia de que a inflação do ano que vem ficará um pouco acima da de 2017, quem sabre na faixa de 4,00%”, avaliou.

Disseminação

A despeito do recuo de 0,02% do IPC-S no mês passado após alta de 0,13%, o indicador de difusão mostrou um resultado acima do apurado em agosto (44,12%), ao ficar em 51,18%. Contudo, Picchetti pondera que esse avanço do índice que mede o quanto a alta de preços está disseminada não traz preocupação.

Um das principais forças de aceleração da difusão foi o grupo Alimentação, que passou de recuo de 0,72% na terceira quadrissemana para declínio de 0,48% no fechamento do mês passado. “A tendência é que o grupo suba em outubro”, estimou.

Outubro

O IPC-S de outubro deve ficar em média mais elevado em 0,06 ponto porcentual por causa da vigência da bandeira vermelha 2, segundo estimativa de Picchetti. Com isso, o indicador deve passar de queda de 0,02% em setembro para alta de 0,40% este mês.

Além da influência do encarecimento na conta de luz por causa da mudança de bandeira amarela do mês passado para a vermelha nível 2 neste, os alimentos devem voltar a subir. “O grupo Alimentação ficou setembro todo com queda. Provavelmente essa deflação vai desaparecer por questões sazonais. Isso já pode ser visto nas pesquisas de ponta”, adiantou, ao referir-se a levantamentos recentes da FGV. Em agosto, este conjunto de preços cedeu 0,83%. Já na terceira quadrissemana de agosto teve taxa negativa de 0,72%, fechado o setembro em -0,48%.

A perda de vigor no ritmo de recuo nos preços de alguns alimentos já pode ser visto da terceira leitura de setembro para a quarta quadrissemana. Segundo Picchetti, as hortaliças e legumes saíram de declínio de 10,65% para retração de 7,31%, com destaque para o tomate (de -20,97% para -8,81%. “Já há sinais de aumento de mais de 17% no preço do tomate”, afirmou.

Um outro exemplo de que o grupo Alimentação pode voltar a mostrar taxa positiva são as frutas. Depois da queda de 0,44% na terceira medição de setembro, a variação migrou para o terreno de alta, de 0,74%. O mamão, citou, ficou 20,32% mais caro. “E já está avançando mais de 24% na ponta”, conta.