A aceleração do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) em março, para 0,47%, na comparação com 0,31% em fevereiro, não altera a trajetória de desinflação este ano. A avaliação é do coordenador do IPC-S da Fundação Getulio Vargas (FGV), Paulo Picchetti. Tanto que o economista prevê arrefecimento no ritmo de alta do indicador de abril, mesmo com pressões já contratadas como no setor de energia elétrica, saúde e fim de quedas nos preços de alguns alimentos. “A trajetória de clara desaceleração continua. O grupo Alimentação é uma mostra de que isso deve persistir, salvo alguma grande surpresa”, avalia.

A expectativa de Picchetti é que o IPC-S termine este mês em 0,35%, depois de 0,47% em março. A estimativa é que a taxa acumulada em 12 meses até abril também perca força, já que em abril de 2016 foi de 0,49%. “A previsão de 0,35% é a média mensal que, se confirmada, fará com que o IPC-S termine em 4,6%, que continua sendo a nossa projeção para o fim do ano”, afirma. Em 12 meses até março, o IPC-S acumulou 4,55% e atingiu 1,48% no primeiro trimestre.

Da alta de 1,48% do IPC-S no período de janeiro a março deste ano, 0,24 ponto porcentual veio do grupo Alimentação (0,94%), segundo o economista. Este conjunto de preços ficou em terceiro lugar na lista dos que mais pressionaram o IPC-S do primeiro trimestre. O primeiro posto ficou com Habitação (1,91%), com impacto de 0,47 ponto no índice, especialmente puxado por energia elétrica. Sozinho, o item respondeu por 0,19 ponto do resultado do IPC-S do primeiro trimestre.

O segundo grupo com mais influência no dado trimestral foi Educação, com efeito de 0,38 ponto porcentual e alta de 4,74% no período. “Há algumas pressões de alimentos, mas a tendência geral é de estabilização. Veja o exemplo de feijão: está com queda acumulada de 19,03% no ano, no caso do grão preto, e de 29,33%, o tipo carioca. Com isso, a taxa acumulada do IPC-S deve cair”, estima.

A dúvida, diz Picchetti, recai sobre os preços administrados. Mas, por ora, no caso do dado de abril, o efeito líquido dos anúncios da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na semana passada deve ser negativo.

Picchetti calcula que o impacto da queda de até 19,5% na conta de luz este mês em todo o País, em razão da devolução de cobranças indevidas de Angra 3, e a volta da bandeira vermelha patamar 1 deve ser de alívio de 0,20 ponto porcentual. “São dois movimentos com efeitos opostos, mas o saldo líquido ainda deve ser negativo”, estima.

Conforme o economista, o IPC-S de abril ainda deve contar com alívio nos preços dos combustíveis este mês, a exemplo do visto em março. No mês passado, a gasolina ficou 1,93% mais barata, enquanto o etanol teve queda de 3,92%. “No ponta pesquisa recente, o etanol está caindo mais de 5%, e a gasolina cedendo cerca de 2%”, adianta.