Por Brad Haynes

SÃO PAULO (Reuters) – A Meta, proprietária do Facebook, informou nesta quinta-feira que removeu da plataforma uma rede de contas com vínculos com militares brasileiros que se apresentavam como falsas organizações sem fins lucrativos para minimizar os perigos do desmatamento.

Os comentários de Meta, publicados em um relatório trimestral, representam um risco para a reputação do presidente Jair Bolsonaro. Um cético de longa data do ambientalismo, Bolsonaro enviou as Forças Armadas para a Amazônia em missões malsucedidas para reduzir a destruição da maior floresta tropical do mundo.

Embora os indivíduos envolvidos sejam militares da ativa, a investigação da Meta não encontrou evidências suficientes para estabelecer se eles estavam seguindo ordens ou agindo de forma independente, de acordo com uma pessoa com conhecimento do assunto.

No início da noite, em nota, o Centro de Comunicação Social do Exército informou que o Exército tomou conhecimento do conteúdo do documento da Meta por meio de publicações na imprensa e entrou em contato com a empresa para ter acesso a mais informações, além de ressaltar que a Força “não fomenta a desinformação por meio das mídias sociais”.

Mais de 80 milhões de pessoas já tomaram dose de reforço contra covid no Brasil

“O Exército Brasileiro… possui contas oficiais nessas mídias e obedece as políticas de uso das empresas responsáveis por essas plataformas. Assim, o Exército já entrou em contato com a empresa Meta para viabilizar, dentro dos parâmetros legais vigentes, acesso aos dados que fundamentaram o relatório, no que diz respeito à suposta participação de militares nas atividades descritas”, diz a nota do Exército.

“Finalmente, cabe ressaltar que a Instituição requer de seus profissionais o cumprimento de deveres militares, tais como o culto à verdade, a probidade e a honestidade”, acrescentou.

A operação de remoção de contas divulgada nesta quinta-feira, a primeira da Meta a atingir uma rede focada principalmente em questões ambientais, pode aumentar os ataques de Bolsonaro a grandes empresas de tecnologia, as quais ele acusa de sufocar vozes conservadoras.

Críticos dizem que Bolsonaro e seus apoiadores usam as plataformas para espalhar desinformação, minando as instituições democráticas do Brasil.

Em seu relatório, a Meta disse que a rede não identificada, que era limitada em escala e engajamento autêntico, usava contas falsas no Facebook e no Instagram para postar inicialmente sobre a reforma agrária e a pandemia, antes de voltar seu foco para questões ambientais no ano passado.

“Em 2021, eles criaram páginas que se passavam por ONGs e ativistas fictícios focados em questões ambientais na região amazônica. Eles postavam sobre desmatamento, inclusive argumentando que nem tudo é prejudicial, e criticando ONGs ambientais legítimas que se manifestavam contra o desmatamento na Amazônia”, afirmou a Meta em seu relatório.

“Embora as pessoas por trás (da rede) tentassemocultar suas identidades e coordenação, nossa investigação encontrou ligações com indivíduos associados às Forças Armadas brasileiras”, acrescentou a Meta.

A Meta se recusou a fornecer informações adicionais sobre sua investigação.

O Palácio do Planalto e o Ministério da Defesa não tinham respondido até o início da noite a pedidos de comentários.

(Reportagem adicional de Gabriel Stargardter)

tagreuters.com2022binary_LYNXNPEI3611W-BASEIMAGE