Na semana em que anunciou uma nova oferta de ações, Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, aceitou o desafio de participar de um vídeo que lembrava os memes que viralizaram na internet nos últimos tempos. O principal foi protagonizado por ela, há um ano, quando caiu enquanto carregava a tocha da Olimpíada 2016, num curto percurso. A brincadeira não era gratuita. A produção elaborada pela equipe de marketing da rede varejista chamava a atenção para a queda dos preços no aniversário do canal digital Magalu.com.

Luiza Trajano quer aproveitar a onda de alta do consumo, que registrou uma expansão de 1,4% no segundo trimestre, após recuar por nove trimestres consecutivos, e ajudou a puxar o Produto Interno Bruto. No mesmo período, as vendas pelo e-commerce da rede varejista cresceram 55,4%, ante 11,6% do mercado. Esse desempenho representou 27,8% das vendas totais – a participação era de 23% no mesmo período do ano passado. “A plataforma digital é uma tendência e a estratégia do Magazine Luiza é um destaque do setor”, afirma Carlos Soares, analista da Magliano Corretora. “Na nova oferta de ações, a empresa diz que boa parte dos recursos irá para a otimização da estrutura, para o canal digital e para acelerar o market place.” A nova oferta de ações do Magazine Luiza é surpreendente. O follow on havia sido suspenso há três meses e tinha valor inicialmente previsto de R$ 1 bilhão. Agora, a rede varejista praticamente duplicou a captação.

Torre de vendas: em pouco tempo, o e-commerce vai ocupar o lugar das lojas físicas. Atualmente, já representa 28% das
vendas totais (Crédito:Junior Lago/UOL/Folhapress)

A projeção é movimentar quase R$ 1,9 bilhão, sendo R$ 1,4 bilhão na oferta primária (que entra no caixa da companhia) e R$ 500 milhões na secundária, que vai para o bolso dos acionistas controladores. A justificativa para esse novo arranjo é aproveitar o potencial de demanda pelo papel. A família, que detém 74% do controle da rede, vai reduzir sua participação para cerca de 65% – já considerando a reestruturação. “A emissão de ações da companhia tende a diluir a participação dos investidores minoritários e representa a saída de acionistas significantes”, diz Luís Gustavo Pereira, estrategista da Guide Investimentos. “Com a nova oferta, haverá um crescimento de cerca de 52% na base de ações em circulação. Isso deve aumentar ainda mais a liquidez dos papéis o que, possivelmente, será suficiente para que a empresa entre na carteira de índices, como Ibovespa ou o IBr-x 50.”

A má notícia para o pequeno investidor é que a oferta é direcionada para o investidor estrangeiro. Chamada de oferta com esforços restritos de colocação, o Magazine Luiza escolheu limitar o número de investidores que podem comprar o papel. A ideia é atrair capital internacional e ter uma base forte de acionistas estrangeiros. Mas os detentores da ação da companhia têm até 22 de setembro para exercer o direito de subscrição na operação e não ser diluído com o aumento de capital. Antes dessa oferta, o Magazine Luiza precisou fazer um desdobramento de ações na proporção de um para oito papéis. A decisão da rede comandada por Frederico Trajano buscou aumentar a liquidez da empresa na bolsa de valores. Entre dezembro de 2015 e agosto de 2017, a ação MGLU3 acumulou a impressionante valorização de 3.800% e estava sendo negociada a R$ 612. Na quarta-feira 13, após o desdobramento, a ação fechou cotada a R$ 72,30.

Família encolhe: Frederico Trajano, CEO da rede e filho de Luiza, comandou o desdobramento das ações. Agora, eles vão vender parte de seus papéis para aumentar a presença de acionistas estratégicos (Crédito:Murillo Constantino e Thiago Bernardes/Frame)

Neste ano, a ação da rede varejista acumula quase 450% de alta. Esse desempenho é 3,5 vezes maior do que o do Grupo Guararapes, dono da Riachuelo, e o mais expressivo do setor de consumo (veja quadro na página ao lado). A tendência é que o foguete do Magazine Luiza comece a cair, certo? Nesse caso, parece que o combustível da empresa não está no fim. O potencial de upside gira em torno de 20%. O que sustenta essa indicação é justamente a transformação digital, que coloca a varejista a frente de todas as suas concorrentes diretas. “Quando há uma alta expressiva, é normal ter uma realização, principalmente no curto prazo”, diz Soares. “Mas isso não significa que a ação não tenha potencial de valorização.”

Os analistas estão, neste momento, revisando o preço-alvo para a ação. Tanto o desdobramento como a oferta de novos papéis mexem com as projeções. Por isso, o novo alvo só começará a ser divulgado próximo do dia 29 de setembro, quando as novas ações passam a ser negociadas na B3. “Ainda continuamos otimistas com o desempenho do Magazine Luiza, que deve continuar a crescer acima da média do setor, como ocorreu no primeiro semestre”, afirma Pereira. “As perspectivas mais favoráveis em relação ao consumo para os próximos períodos também nos deixa confiantes, tanto com a empresa quanto nos seus resultados.”