Um carro de US$ 10 milhões é caro? Depende. Para muitos é quase um absurdo. Mas para, pelo menos, 39 pessoas este é um valor irrisório. Afinal, estamos falando de uma Ferrari 250 GTO. Produzida entre 1962 e 1964 essa máquina é considerada a mais perfeita obra da montadora italiana.
?A GTO é a apoteose das Ferraris de motor dianteiro, uma jóia na história do automóvel, atemporal como Botticelli?, disse certa vez o ex-piloto britânico Stirling Moss. Hoje existem apenas 39 unidades espalhadas pelas garagens de colecionadores e milionários ao redor do mundo. E para fazer parte deste seleto grupo de donos de 250 GTO não basta ter dinheiro. O mercado dessas máquinas é um dos mais secretos que existem no mundo. Os leilões, por exemplo, são realizados em absoluto sigilo e poucos ousam torná-los público. Uma das vezes que isso aconteceu causou a ira de todos os proprietários desta fantástica máquina.

Em 1990, um concorrido leilão realizado pela inglesa Bonhams agitou Monte Carlo. Mais de 100 pessoas brigaram para estacionar a jóia em suas garagens. Quando o leiloeiro anunciou o valor mínimo de US$ 2,5 milhões, dezenas delas cobriram a proposta. E foi assim até que o multimilionário do ramo imobiliário, o sueco Hans Thulin, arrematou o carro por US$ 10,5 milhões. Ao mesmo tempo que o sueco levava o automóvel para casa, os outros donos do 250 GTO ficaram desiludidos. O motivo? Eles acharam que o valor pago era baixo e que uma GTO valeria mais. Outros, porém, disseram que o preço estava muito inflado. Raramente o nome de um dono da 250 GTO é revelado. Pelos estatutos do clube dos proprietários de Ferrari da Grã-Bretanha, por exemplo, quem disser o nome é processado judicialmente. Apesar disso, um ex-dono de uma GTO, o francês Jess Pourret, resolveu abrir ao mundo quem são as privilegiadas pessoas que podem sentar-se em uma legítima Ferrari 250 GTO e dar partida na ignição de tão sonhada máquina. Entre eles figuram os famosos estilistas Ralph Lauren e Tommy Hilfiger, donos de grifes de roupas que levam seus nomes, e o magnata Robson Walton, CEO do Wal-Mart, maior cadeia de varejo do mundo.

Mitos do automobilismo. Não é difícil compreender o fascínio que a máquina causa entre esses milionários. ?Além de serem exclusivas, as 250 GTO ajudaram a construir a história da Ferrari?, diz Nataniel Wolosker, um apaixonado ferrarista. O mito da marca italiana nasceu do desejo de Enzo Ferrari, fundador da montadora, de criar um carro invencível nas provas de Grand Turismo como a renomada Le Mans. Mas para competir nessa corrida era obrigatório que o carro também rodasse na rua. Então produziu-se poucos deles para um seleto grupo de pessoas e batizaram-na de 250 Grand Turismo Omologato. ?O carro foi vendido apenas para os clientes mais fiéis da marca?, diz Wolosker. Na época, a Ferrari GTO cobriu-se de glórias como a máquina mais rápida do mundo, vencendo os campeonatos mundiais de 1962, 1963 e 1964, quando parou de ser fabricada. Com um motor de 320 cavalos de potência, o bólido atingia mais de 290 km/h.
Mitos do automobilismo mundial como os pilotos Graham Hill, Innes Ireland, Mike Parkes, entre outros, dirigiram o carro e consagraram-no como uma das criações mais perfeitas da marca italiana. Hoje é preciso pagar mais de US$ 10 milhões para sentir o gostinho de acelerar e escutar o ronco incomparável de uma legítima 250 GTO.