Paraíso do lazer e do turismo, a ilha de Fernando de Noronha está prestes a se tornar um polo de inovação e desenvolvimento de novas tecnologias de energia sustentável.

Grandes empresas multinacionais, como as fabricantes de carros elétricos americana Tesla, as montadoras GM e a chinesa BYD e a geradora de energia italiana Enel, estão transformando a ilha em um laboratório de pesquisas de energias sustentáveis a céu aberto.

Entre as brasileiras, a WEG, a Baterias Moura e a distribuidora de energia de Pernambuco, a Cepel, já estão trabalhando por lá em projetos de geração de energia.

Ao todo, serão mais de R$ 100 milhões investidos em projetos de pesquisa e desenvolvimento na ilha de 17 km² e localizada a 345 km da costa brasileira.

O valor pode não parecer muito significativo, mas tem o potencial de dobrar o PIB do município, cujos 3 mil habitantes dependem basicamente do turismo.

“Os números investidos não representam uma grande soma. O impacto que esperamos virá do resultado das inovações”, afirma Sérgio Xavier, secretário de Meio Ambiente de Pernambuco, com o qual as empresas mantêm convênio.

Todas as empresas têm em mente o desenvolvimento de tecnologias de energia sustentável, mas cada uma delas que está investindo na ilha possui um interesse diferente. A Tesla, por exemplo, foi à campo para testar o uso de superbaterias para o armazenamento de energia gerada pelas usinas solares instaladas na ilha. Apenas esse projeto consumirá R$ 26 milhões em investimentos. A Moura, em uma ação semelhante, já colocou outros R$ 18 milhões.

Outras propostas abarcam a mobilidade urbana. A General Motors quer colocar carros autônomos para circular nas estradas existentes por lá. Projeto semelhante é o da chinesa BYD, que possui fábrica na região de Campinas (SP). O seu projeto consiste na implementação de ônibus urbanos elétricos.

As empresas, quando procuradas, não confirmaram os projetos. Algumas disseram que ainda estão estudando a viabilidade. Segundo uma fonte ligada à iniciativa, questões de segredo comercial atrapalham a divulgação dos trabalhos.

No âmbito governamental, o Estado de Pernambuco trabalha em conjunto com a Embaixada dos Estados Unidos, que colocou as empresas em contato com os gerentes do projeto. As reuniões estão acontecendo desde 2016 e o pioneirismo da Tesla foi usado como chamariz para que outras companhias embarcassem na empreitada.

Em julho deste ano, o último encontro realizado pelos interessados contou também com o governo do Havaí, a distante ilha americana. O objetivo desses projetos é desenvolver tecnologias de energia sustentável que tanto o Brasil quanto os Estados Unidos possam implementar. O Recife será, possivelmente, a primeira grande cidade brasileira a colher os frutos dos resultados alcançados em Noronha.

Painéis Solares Fernando de Noronha
Painéis solares da WEG e da Celpe, em Fernando de Noronha (PE) (Crédito:Scharlene Guedes/Governo de Pernambuco)

O secretário de Meio Ambiente de Pernambuco conta que o projeto nasceu de uma ideia do Comitê de Inovação e Incentivo à Economia de Baixo Carbono, criado pelo governo pernambucano. “Durante o processo de construção de uma plataforma de redução das emissões, desenvolvemos uma proposta de utilizar a ilha como um laboratório”, diz Xavier.

Para participar da iniciativa, explica o secretário, não foram cobradas contrapartidas das companhias. Como empresas brasileiras também integram o grupo de companhias desenvolvedoras, a transferência tecnológica é automática.

“Acreditamos que o mercado traz soluções eficientes para problemas. Nós, como governo, temos mais dificuldades. Não tenho dúvidas de que algumas das soluções para o caos das grandes cidades poderão sair daqui. Então, a contrapartida é a modernização da ilha e o benefício à população”, afirma Xavier.

Além das baterias da companhia americana, que ainda estão em estágio de implementação, o que há de fato em Fernando de Noronha são duas usinas solares construídas pela WEG, que produzem eletricidade correspondente a 15% do consumo de energia local.

A partir do momento que outras tecnologias forem sendo entregues, elas são interligadas. “Geração solar, mais carros elétricos, mais internet das coisas. Nosso objetivo é construir uma cidade conectada”, afirma Xavier