Definitivamente, este não foi um bom ano para o mercado de ações brasileiro. A Bovespa acumula queda de 22,26% até novembro. O volume de dinheiro negociado na Bolsa no último mês foi o menor desde 1999. Porém, até as más notícias podem ter seu lado bom. Nesse caso está no fato de que o cenário obscuro empurrou para baixo o preço de papéis com liquidez e boas perspectivas. E fez deste o melhor momento do ano para comprar ações. Isso mesmo, esta é a hora de tirar vantagem da fase ruim dos pregões. Assim como fazem as lojas quando precisam renovar os estoques, o mercado está cheio de ofertas. Mas como numa promoção, é preciso avaliar se aquele produto que parece atraente pelo valor é também pela qualidade. ?Preço baixo não significa bom negócio?, diz Einar Rivero, diretor da Economática, empresa de dados de São Paulo. ?É preciso avaliar pontos como liquidez e previsões do setor para ter certeza se vale mesmo a pena.?

A partir de uma pesquisa elaborada pela Economática, DINHEIRO ouviu analistas e resumiu numa lista de 20 as melhores oportunidades de compra. O que mais contou pontos para os especialistas foi a aposta na recuperação do cenário econômico nacional em 2001. Se ela acontecer mesmo, os papéis de grupos cujo desempenho depende da economia brasileira tendem a recuperar e acompanhar o crescimento. É o caso, por exemplo, de empresas como Saraiva, Fosfértil, Lojas Americanas, Santista e Perdigão. ?O caso da Perdigão é ainda mais especial porque está relacionado à recuperação de renda?, explica Alexandre Póvoa, gestor do ABN Amro. Póvoa acredita que o aumento do salário mínimo já deve refletir numa alta de consumo e, com isso, na valorização da empresa. Ainda nessa lista de promoções, uma boa oportunidade de investimento é o Itausa, holding que controla o Banco Itaú. ?É uma forma de pagar menos por um papel com chance de valorização num curto prazo?, prevê Marco Aurélio Barbosa, analista da Coinvalores de São Paulo.

Há outros pontos que pesam a favor desses papéis. Isabel Pedrosa, diretora de análise do BankBoston Asset Management, faz uma avaliação com base no perfil administrativo. ?São líderes em seus segmentos e tendem a melhorar suas estruturas de custos ao ampliar as vendas.? Com base nessa mesma explicação, Marcos Cunha, sócio da Investidor Profissional, empresa de gestão de recursos do Rio de Janeiro, indica o papel da Souza Cruz. Apesar da perspectiva de declínio no consumo de cigarro, Cunha diz que a empresa não vai perder tão cedo a posição de uma das maiores produtoras de tabaco do mundo.

Se todos concordam que o quadro interno é favorável e permite boas apostas, ninguém deixa de considerar que os focos de tensão externa persistem. E como esquecer da crise na Nasdaq, do pedido de ajuda da Argentina, da polêmica no preço do petróleo e das incertezas políticas e econômicas nos Estados Unidos? Por tudo isso, o indicado é manter as fichas em empresas voltadas para o mercado interno. Exemplo é o setor de siderurgia. Póvoa indica a Companhia Siderúrgica Nacional, mas não recomenda a CST por estar centrada nas exportações.

A lista das ofertas pode (e deve) ser um excelente parâmetro para quem quer começar bem o ano. ?Mas se o investidor não tem condições de análise, é melhor deixar que um gestor de fundos faça isso?, diz Cunha. E até eles estão sujeitos a erros. Principalmente se algo alterar as previsões econômicas. ?Se não houver a tão esperada recuperação da economia brasileira, muda tudo?, afirma Isabel Pedrosa. Nada é 100% previsível. Não é a toa que essa aplicação é considerada de risco. Acompanhe o que aconteceu com as ações que estavam entre as mais baratas do mercado no final de 99 (confira tabela). Quem apostou no Realpar PNA já comemora a oscilação positiva de 84% no ano. Já quem comprou o Cofap PN (e pagou R$ 4,99 por ela) está vendo seu rendimento cair ainda mais. A ação está sendo negociada hoje por R$ 1,30. Mais uma vez, vale a regra dos saldões: nem tudo que é barato é bom.