Por Lindsay Dunsmuir

(Reuters) – Autoridades do banco central dos Estados Unidos, aflitas por causa da atual inflação elevada e em um cenário de enfraquecimento do crescimento, explicarão na quarta-feira como acham que sua meta cada vez mais difícil de desacelerar o ritmo da economia sem colocá-la numa queda em espiral pode se desenrolar nos próximos meses.

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Essa situação difícil será exibida depois que os formuladores de política monetária do Federal Reserve, em conjunto com o que deve ser um segundo aumento consecutivo de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros, revelarem suas novas projeções de crescimento econômico, desemprego e inflação até 2024 e além. De forma crítica, sinalizarão a velocidade e a escala dos incrementos dos juros que acreditam ser necessárias para domar a inflação, em máxima de 40 anos.

O chair do Fed, Jerome Powell, disse anteriormente que o banco central, que em março elevou a taxa básica pela primeira vez em três anos, continuará a subir os juros até que o avanço dos preços arrefeça de maneira “clara e convincente”.

As autoridades já planejam igualar o esperado ajuste para cima desta semana com outra alta de 0,50 ponto em sua reunião de julho, o que aumentaria os custos dos empréstimos para entre 1,75% e 2,0% –exatamente onde apenas três meses atrás as autoridades pensavam que estariam no final do ano.

NOVAS PREVISÕES, NOVAS PERGUNTAS

O avanço dos preços ao consumidor nos EUA acelerou em maio para 1,0%, com os preços da gasolina em pico recorde e o custo dos serviços avançando ainda mais, enquanto o núcleo dos preços subiu 0,6%, após avançar pela mesma margem em abril, informou o Departamento do Trabalho dos EUA na sexta-feira, o que ressaltou o necessidade de o Fed manter o pé no freio.

Nos 12 meses até maio, a inflação geral aumentou 8,6%.

O novo conjunto de projeções dos formuladores de política monetária deve refletir um ritmo de alta de juros mais rápido, crescimento mais lento, inflação mais pressionada e taxa de desemprego maior. O ponto será quanto para cada um.

Todas as autoridades agora concordam que o banco central precisa subir sua taxa básica de juros para um patamar neutro –nível que não estimula nem restringe o crescimento econômico– até o final deste ano. Essa taxa é vista aproximadamente entre 2,4% e 3%.

O ponto médio das autoridades para o final de 2022 pode facilmente subir o suficiente para sinalizar pelo menos outro incremento de 0,50 ponto percentual nos juros em setembro, dada a leitura de inflação pior do que o esperado de sexta-feira. Até que ponto o Fed terá que subir os juros no geral também aumentará. A maioria dos economistas vê os custos dos empréstimos chegando entre 3% e 3,5%.

O diretor do Fed Christopher Waller disse recentemente que, se o banco central conseguisse reduzir a inflação para perto de sua meta de 2% sem deixar a taxa de desemprego, atualmente em 3,6%, superar 4,25%, seria um desempenho “magistral”.

QUANTA DOR O FED ESTÁ DISPOSTO A AGUENTAR

Alguns dos fatores que mantêm a inflação tão pressionada –em particular os choques de oferta fora do controle do Fed por causa da invasão da Ucrânia pela Rússia, que causaram um salto nos preços dos alimentos e petróleo– não mostram sinais de arrefecimento. No geral, o banco central ainda enfrenta uma tremenda incerteza sobre as perspectivas dessa e de outras interrupções na cadeia de suprimentos causadas pela pandemia de Covid-19.

As autoridades também não têm recebido muita ajuda do lado da demanda, uma vez que as finanças saudáveis ​​dos bancos, empresas e famílias dos EUA representam um possível obstáculo para conter a inflação, conforme aumentam os juros numa economia capaz, até agora, de pagar o preço.

Quanto mais o Fed luta para conter a demanda e quanto mais a inflação persiste, mais aumenta a probabilidade de a inflação se enraizar, de forma que o Fed precisaria acelerar sua ação.

E se o consenso do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) não se alinhar com a visão de Powell sobre o que é necessário, ele demonstrou por meio de recente orientação entre reuniões que está preparado para assumir a liderança de forma a garantir que a inflação seja decisivamente contida.

David Wilcox, ex-diretor de pesquisa do Fed, agora diretor de pesquisa econômica dos EUA na Bloomberg Economics e membro sênior do Peterson Institute for International Economics, espera que Powell mantenha um foco afiado na parte da inflação do mandato do Fed, como Paul Volcker, o imponente chefe do banco central que domou a inflação na década de 1980.

“Powell tem toda a intenção de entrar para a história, se necessário, como Paul Volcker versão 2.0”, disse Wilcox.

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