Doze meses após ter chegado à Casa Branca, Donald Trump apresenta números de uma condução bem-sucedida da economia americana. O Produto Interno Bruto (PIB) cresce cerca de 3% e completou o 42º mês de expansão contínua; a taxa de desemprego é de 4,1%, a mais baixa dos últimos 17 anos; nesse período, o índice Dow Jones, o principal da bolsa de valores dos Estados Unidos, acumulou 28,5% de alta, o que coloca o republicano com o quarto melhor desempenho da história de um presidente em primeiro ano de mandato. Além disso, os índices de confiança dos empresários estão elevados. Se fosse qualquer outro presidente, esses dados estariam sendo comemorados. Mas, para o controverso Trump, a situação é inversa: ele precisa resolver um impasse com o Congresso e aprovar o Orçamento para 2018.

Na semana passada, os serviços públicos federais ficaram fechados por 60 horas por falta de verba. O Legislativo teve de aprovar um plano de emergência até 8 de fevereiro para o governo Trump apresentar uma nova proposta orçamentária. O episódio, conhecido como shutdown acende uma luz vermelha sobre a gestão do republicano. Essa é a primeira vez na história do país que um presidente com maioria no Legislativo sofre um shutdown. Esse “apagão” já aconteceu 18 vezes na história da política americana, mas em todas elas o presidente não tinha maioria no Senado e na Câmara. “O presidente Trump não tem convicção do que faz”, diz a economista Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for nternational Economics. “Ele não sabe o que quer e é contraditório em tudo.”

Nas mãos do Congresso: Imigrantes protestam em frente à Casa Branca contra a suspensão do programa que concede visto de trabalho permanente (Crédito:AP Photo/Pablo Martinez Monsivais)

Com apenas 36% de aprovação ao completar o primeiro ano na Casa Branca, a menor desde Ronald Regan, que obteve 48%, em 1982, Trump precisa cumprir as promessas de campanha para conseguir apoio de sua base. Os republicanos pedem a inclusão de recursos no Orçamento para a construção de um muro na fronteira com o México, apesar de o chefe de gabinete John Kelly ter dito aos parlamentares hispânicos que a visão do presidente em relação ao muro “evoluiu” desde a campanha eleitoral de 2016.

Pelo Twitter, Trump respondeu que nunca mudou de ideia. O maior impasse, porém, é o aumento dos gastos militares. Os republicanos querem aprovar o maior gasto da história dos EUA com as forças armadas. A proposta orçamentária prevê uma despesa militar de US$ 600 bilhões, o triplo do que é gasto pela China (US$ 215 bilhões), que tem o segundo maior orçamento militar, de acordo com o instituto de segurança Sipri. “Votaremos a favor da proposta orçamentária, mas os republicanos terão de cumprir sua parte”, advertiu Chuck Schumer, líder democrata no Senado, em resposta à promessa dos republicanos de buscar um acordo migratório para os dreamers, aqueles imigrantes que chegaram aos EUA como menores de idade.

Um exército de dinheiro: republicanos querem aprovar US$ 600 bilhões para as Forças Armadas, maior gasto da história dos EUA e o triplo do que é gasto pela China (Crédito:Sgt. Justin Updegraff)

Enquanto Trump apagava as velas do seu primeiro ano de governo com esse impasse, cerca de 800 mil imigrantes comemoravam uma possível solução entre os legisladores para não serem deportados em 8 de março. Essa é a data estabelecida pelo presidente para suspender o Daca, programa criado por Obama, que concede vistos de permanência e de trabalho, a cada dois anos, aos que imigraram de forma ilegal quando eram crianças. Atualmente, cerca de 6,8 milhões dos mais de 11 milhões de estrangeiros que chegaram ilegalmente nos EUA estão empregados.

Expulsá-los causaria uma perda estimada entre US$ 381,5 bilhões e US$ 623,2 bilhões na economia, o que provocaria uma queda de 2% no PIB do país, de acordo com o centro de pesquisas American Action Forum. “Todos esses episódios revelam a incapacidade de Trump dialogar com o próprio partido”, diz Juliano Cortinhas, da Universidade de Brasília. Suas condições de governo podem ficar ainda mais complicadas na Casa Branca se ele perder a maioria na Câmara ou no Senado. As eleições legislativas acontecem em 2 de novembro. Nos EUA, o Congresso funciona como uma espécie de termômetro do governo. Uma vitória dos democratas pode levar o governo Trump para um longo shutdown.