São Paulo, 21/3 – O fim do regime de cotas de produção de açúcar na União Europeia (UE), a partir de outubro, pode levar o bloco a fabricar o maior volume do alimento desde a safra 2005/06, projetou nesta terça-feira a INTL FCStone. Pelos cálculos da consultoria, a UE deverá produzir 18,24 milhões de toneladas do adoçante em 2017/18, 16,6% mais ante o esperado para a atual temporada. Em 2005/06, a fabricação foi de 19,3 milhões de toneladas.

“A produção ficaria em torno de 400 mil toneladas abaixo de nossa estimativa para a demanda doméstica do bloco, reduzindo drasticamente a necessidade de importações pelo continente”, destacou o analista de mercado da INTL FCStone, João Paulo Botelho, em nota.

Atualmente, o regime de cotas na UE limita a produção de açúcar mas, após seu fim, os países estarão livres para fabricar quaisquer volumes, podendo destiná-los tanto para o mercado interno quanto externo.

A consultoria explica que a produção de açúcar de beterraba tende a se elevar conforme os produtores mais eficientes buscam aumentar sua participação no mercado, reduzindo as importações. No médio prazo, o bloco pode se tornar exportador líquido de açúcar. Em contrapartida, o consumo pode diminuir em virtude da eliminação das cotas de produção do xarope de glicose, que deve competir diretamente com o açúcar.

Segundo a INTL FCStone, as empresas europeias já tomaram suas decisões de produção para a safra 2017/18. Com os preços internacionais em nível relativamente elevado, a maioria das grandes produtoras de França, Alemanha, Reino Unido e Holanda incentivaram seus fornecedores a aumentar em até 30% a área plantada, com o objetivo de elevar o share no mercado europeu e, possivelmente, até exportar o produto.

A negociação com os agricultores, entretanto, foi muito diferente entre as empresas. “Pelas informações que circularam no mercado, podemos aferir que a maior parte das empresas ofereceu preço da beterraba inferior à safra passada, por causa principalmente da perspectiva de que o preço do açúcar na UE convirja para a cotação internacional”, explicou Botelho. Mesmo considerando os preços mais baixos, a maioria dos agricultores deve aumentar a área plantada graças à maior remuneração oferecida pela beterraba em relação às culturas concorrentes.

Por fim, a INTL FCStone destaca que as exportações brasileiras de açúcar devem ser “impactadas negativamente” com o fim do regime de cotas, apesar de a participação do continente já ser muito baixa para o País. Ao longo dos últimos três anos, o bloco respondeu por pouco mais de 2% das vendas externas do Brasil, com compras entre 400 mil e 800 mil toneladas do produto por ano. As usinas do Nordeste, que possuem cotas com tarifas preferenciais, devem ser as mais afetadas.