Acabou a moleza dos concorrentes. A marca Fiat, que perdeu muita participação de mercado nos últimos anos, voltará a crescer no Brasil. Sempre em dobradinha com a Jeep, a Fiat receberá as maiores atenções da matriz a partir de agora. A estratégia faz parte do plano global de investimentos da FCA (Fiat Chrysler Automobiles) e foi anunciada no início de junho em Turim, na Itália. Hoje, durante um almoço com a imprensa, o presidente da FCA na América Latina, Antonio Filosa, falou mais sobre as estratégias para os mercados brasileiro e latino-americano.

Globalmente, a FCA investirá 45 bilhões de euros até 2022 e fará da Jeep a sua marca principal. Desse total, cerca de 9 bilhões serão destinados à eletrificação (e mais concentrada na linha Jeep). Segundo Filosa, o investimento na América Latina será de R$ 14 bilhões, mas, dessa vez, não haverá a necessidade de construir novas fábricas; apenas de torná-las mais digitalizadas. Ele se encontrou com a imprensa especializada entre duas reuniões com concessionários das rede Fiat e Jeep. Para o primeiro grupo, Filosa prometeu 15 lançamentos até 2022, entre novos produtos e renovação da linha atual da Fiat. Para a rede Jeep, ele sinalizou com 10 lançamentos nos próximos cinco anos.

A maioria dos lançamentos ocorrerá até 2020. Para a Fiat estão previstos três crossovers (SUVs com tração dianteira), sendo que o primeiro deles deverá ser lançado no primeiro semestre de 2019 e será derivado do Argo – seu principal concorrente será o Honda WR-V. O outro será um carro do porte do Uno, para combater diretamente o Renault Kwid, mas não tão pequeno. O terceiro será um carro maior, de sete lugares, oriundo de uma nova plataforma que está sendo feita para o Brasil e região. Seu porte será similar ao do Jeep Compass. Todos esses carros serão fabricados em Betim (MG).

Para a Jeep, haverá um SUV “o mais premium possível”, posicionado acima do Compass, produzido em Goiana (PE). Finalmente, um antigo desejo do consumidor brasileiro, a picape RAM, será comercializada no Brasil numa versão mais acessível, a 1500, do porte das picapes médias Chevrolet S10 e Toyota Hilux. Esse carro será importado do México e manterá a marca RAM no Brasil.

A nova Fiat, mais brasileira

De certa forma, a FCA abriu mão da marca Fiat globalmente. O presidente da empresa, Sergio Marchione, declarou que “não há mais espaço para a Fiat na Europa”. Porém, a força e a tradição da marca no Brasil não serão desperdiçadas – muito pelo contrário, a ideia é fortalecê-la. “Para essa geração millenium, vamos trazer um smartphone com quatro rodas, motor, câmbio e que anda”, disse Filosa. Os milleniuns são pessoas nascidas em meados da década de 1980 e têm hábitos bem diferentes das pessoas das gerações anteriores em relação aos carros.

É exagero afirmar que a Fiat desaparecerá na Itália, mas mesmo em sua pátria-mãe a marca ficará concentrada na produção de carros de nicho para exportar para os EUA, por exemplo, como toda a linha 500. Já no Brasil a atenção à Fiat será total. Além dos três veículos urbanos familiares, a Fiat lançará uma nova geração da picape Strada para manter a liderança no segmento de comerciais leves, junto com a picape Toro e o furgão Fiorino. A Fiat voltou a ter plena dedicação da FCA porque o objetivo é voltar à liderança do mercado brasileiro em 2018. Filosa garante que isso irá acontecer. Em 2017, a FCA perdeu a liderança para a GM, que só tem a marca Chevrolet no Brasil.

Novos motores e mais câmbio automático

Segundo Filosa, 90% do investimento na América Latina serão em novos produtos. Mesmo assim, ele disse os carros da Fiat receberão uma nova família de motores, em substituição à família E.torQ. O famigerado câmbio automatizado GSR, de embreagem simples, deverá dar lugar a novas transmissões automáticas de verdade. Com isso, a percepção de valor dos carros da Fiat aumentará bastante – e a ideia é deixá-los num patamar elevado de preços, pois aquela Fiat dos carros populares e baratinhos não existe mais. Finalmente, os motores da Fiat também entrarão na era turbo, para ficarem mais eficientes, como já ocorre com a Volkswagen, por exemplo.

A FCA também aproveitará o programa Rota 2030, que deverá ser implementado ainda no governo Temer, para investir em motores mais ecológicos. Filosa acredita que o etanol brasileiro permite enormes possibilidades de aproveitamento e projeta carros flex quase tão ecológicos quanto os híbridos para o mercado local. Não há previsão de que a tecnologia do etanol seja aproveitada em outros países. Com todas essas modificações, a FCA manterá a estratégia de SUVs 4×4 para a Jeep e posicionará a Fiat cada vez na faixa de “produtos com maior tíquete médio”, segundo Filosa. Ou seja: mais equipados e, portanto, mais caros.