Será mesmo que ainda é tão necessário um diploma de nível superior para que um profissional se dê bem na nova realidade do mercado pós-pandemia? Para surpresa de muitos, 93% das empresas ao redor do mundo declararam que “não”, de acordo com a ADP, líder global em soluções de gerenciamento de folha de pagamento e gestão de capital humano. Talvez por isso o número de vagas de empregos que exigem um diploma vem caindo nos últimos anos. Muitos empregadores estão reduzindo – ou descartando – os requisitos de diploma universitário para alguns cargos na tentativa de atrair um conjunto mais amplo de talentos.

A proporção de novos anúncios de emprego que listavam um diploma de bacharel como pré-requisito caiu para 7% em 2021, abaixo dos 11% em 2020 e 15% em 2016, segundo dados levantados pela consultoria internacional ZipRecruiter, com base em levantamento global de vagas.

E a explicação para isso, segundo especialista, é que nem sempre as graduações tradicionais fornecem aos estudantes as qualidades que a maioria das empresas está buscando nos candidatos para manter seus negócios competitivos no atual mercado de trabalho. Por isso, as empresas precisam orientar suas buscas a fim de obter o melhor de cada candidato, na opinião da vice-presidente de RH para a América Latina da ADP, Mariane Guerra. A executiva vê no processo de seleção o ponto crucial. “A revisão de requisitos, como a graduação tradicional, pode resultar em uma população maior de candidatos em potencial, além de fomentar a formação de equipes mais diversas, que trarão habilidades que podem ajudar no crescimento do negócio”, afirma a especialista.

Por isso, empregadores em quase todos os setores estão trabalhando para dimensionar corretamente seus requisitos educacionais, mesmo em áreas altamente técnicas, segundo a especialista. Por exemplo, cerca de 50% das vagas atuais da IBM nos Estados Unidos são empregos que exigem diploma. Já o Google reduziu os requisitos de diploma universitário de 89% dos empregos em 2017 para 72% em 2021, de acordo com um relatório do The Burning Glass Institute, especializado em pesquisas trabalhistas.

QUESTÃO DE TIMING

Mariane não questiona o trabalho das universidades. Segundo ela, o que existe é uma diferença de ritmo entre o mercado e a academia. “É primordial que o jovem se desenvolva, descobrindo aquilo que lhe encanta na mesma medida em que se capacita”, afirmou. Para a especialista, as empresas e o mercado de uma forma geral, evoluem rapidamente para atender às necessidades de cada setor. “Hoje, a toda hora surge uma nova empresa e com ela surgem novos desafios que a academia pode demorar a entender e capacitar seus alunos”, afirma. Algumas universidades já entenderam essa lacuna, na opinião de Mariane, e tem intensificado o contato com o mercado.

Somado a isso, vieram todas as mudanças com o trabalho remoto, após o início da pandemia de Covid-19, complicando ainda mais o cenário de gestão de talentos. Barreiras geográficas foram derrubadas, ampliando os horizontes para muitos profissionais. “Por isso, independentemente de área ou localização, os líderes empresariais devem se perguntar se, ou quando, devem exigir um diploma de quatro anos como pré-requisito”, disse a executiva.

Livrar-se dos requisitos de graduação para todos os empregos pode até parecer uma maneira simples de corrigir a escassez de talentos, treinar a próxima geração de trabalhadores capazes e resolver vários problemas com o recrutamento de profissionais que muitas empresas enfrentam. Mas isso está longe de ser realista. Existem, e sempre continuarão a existir, muitos empregos que exigem um diploma, segundo a vice-presidente de RH da ADP. “Certamente continua existindo um lugar para a educação formal. Eu ficaria muito desconfiada de ir a um médico que nunca foi para a universidade ou ter um advogado me representando que nunca foi para a faculdade”, assegura a executiva.