Cautela, foco, um breve senso de responsabilidade… Palavras que não compõem o vocabulário de Jair Bolsonaro marcaram o pronunciamento do comandante do Exército, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, na sexta-feira (17). O raro e inusitado discurso público, teoricamente direcionado às tropas dez dias depois das celebrações de 7 de Setembro, tem sido analisado, dia após dia, como uma mensagem para acalmar os ânimos da economia, que patina com inflação fora de controle, descrédito internacional, dólar em níveis recordes e desemprego que não diminui. “Nenhum militar de alta patente se dirige a seus comandados através de vídeo aberto na TV”, disse o cientista político Heitor Luis Sanchez, especialista em Políticas Públicas e Relações Internacionais. “O posicionamento tem um claro objetivo de transmitir o pensamento das forças à população e à economia”, afirmou.

A declaração mais diplomática do militar difere, em gênero, número e grau, das bravatas do presidente da República e da passividade e desrespeito das Forças Armadas diante das constantes ameaças à ordem democrática. O próprio general que agora pede parcimônia, então contaminado pelo vírus bolsonarista, chegou a ameaçar, em agosto, líderes do Parlamento com a não realização de eleições em 2022 caso o voto impresso não fosse aprovado no Congresso. Não foi.

Alexandre Schneider

Para Rafael Mariutti, economista e especialista em Relações Internacionais pela FGV, “Bolsonaro blefou com uma carta que não tem a força que ele imagina”, ao usar um suposto apoio militar a seu governo contra as instituições. “Mas as falas ajudaram a baixar a poeira no mercado financeiro, já que incertezas e turbulências institucionais são venenos para os investidores.”

A tentativa de pôr ordem ultrapassa discursos e pede atitudes. E (por sorte) elas não estão nas mãos armadas. A conjuntura global, com temores de crise na China, com um possível calote da Evergrande, queda na cotação das commodities e perspectiva de alta dos juros nos Estados Unidos levaram os investidores a tirar dólares do Brasil. Mais uma prova que, além de pólvora e saliva, para o País convencer que é sério precisa mudar também o comportamento.