A história lembra um antigo seriado de tevê chamado Bonanza, no qual o velho fazendeiro Ben Cartwright enfrentava os perigos do Velho Oeste, com a ajuda de seus três jovens filhos. Transporte-se o cenário para a cidade de Araçatuba, interior de São Paulo, mude-se o nome para José Manoel Lima e aumente-se o número de filhos para quatro. Unido, o clã Lima sustenta, nos últimos meses, uma queda de braço com a Petrobras. Em jogo, está o mercado de combustível de aviação executiva, estimado em R$ 500 milhões anuais. A família Lima é dona da Top Aviation, distribuidora do produto no Brasil e na Bolívia. Segundo eles, a Petrobras, única produtora desse tipo de combustível no País, tem feito de tudo para evitar que a Top compre o produto para distribuí-lo pelo País. As artimanhas, dizem eles, vão dos aumentos excessivos de preço à alegação de falta de estrutura para retirar o combustível. Pela diferença de tamanho dos dois oponentes, talvez a Petrobras não tivesse dificuldades para sufocar a pequena Top. Mas trata-se de um típico caso em que o tiro pode atingir o próprio pé. A empresa dos Lima negocia uma associação com uma gigante mundial de petróleo. As candidatas são a British Petroleum, a Esso ou a Repsol. Enfim, de um dia para o outro, a Petrobras pode deixar de enfrentar a família Lima e trombar com um desses colossos. ?Não vamos desistir?, avisa Carlos Alberto de Lima, primogênito de ?seu? José Manoel e responsável pela Top Aviation.

A família tem querosene de aviação correndo nas veias. Em 1969, ?seu? Manoel criou um pequeno grupo empresarial, formado por oficinas de manutenção de aeronaves, companhia de táxis aéreos e uma revenda de aviões Cessna. Também se tornou revendedora de combustível de aviação para a Shell. Dez anos depois, trocou a multi pela BR, subsidiária da Petrobras para o setor de distribuição. Em 2001, os negócios dos Lima faturavam R$ 25 milhões, sem contar as receitas de fazendas de gado, onde são mantidas 8 mil cabeças. A concessão para abastecimento de aviões era da BR, mas quem tocava a operação em aeroportos e heliportos em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná era a família Lima, na condição de prestadora de serviços. A parceria se estendeu até abril deste ano. ?Nesse período, a participação de mercado da BR saltou de 30% para 60%?, afirma Carlos Lima.

Há cerca de um ano, a BR resolveu assumir toda a operação nos aeroportos. O motivo, diz Carlos Lima, foi a abertura do mercado de combustíveis. A concorrência tornou-se mais acirrada e a BR procurou novos nichos de atuação. O tamanho desse setor (R$ 500 milhões) pode não ser tão atraente, mas as margens de lucro, sim. Carlos Lima diz que os revendedores, papel desempenhado pela Top, ficavam com 30% do preço final do combustível. Outros 15% iam para o caixa da distribuidora, no caso a BR. ?Eles queriam somar as duas margens?, diz ele. Para desestimular os Lima, os preços do combustível foram majorados em 78%, enquanto o aumento na refinaria não passou de 13%. A única alternativa, conta Carlos, foi romper o contrato com a BR. A Top, então, comprou uma distribuidora e passou a competir com a antiga parceira. Mas a Petrobras teria colocado obstáculos à compra do produto. ?A dificuldade mencionada pela Top deve-se ao fato de essa companhia não possuir, no momento, instalações para operar nos padrões de fornecimento adotados?, responde a Petrobras em nota assinada por sua assessoria de imprensa. Carlos Lima garante que os procedimentos foram mudados depois do rompimento do contrato.

Para driblar as dificuldades, a Esso, que não atua diretamente nesse mercado, passou a comprar o combustível de aviação e revendê-lo para a Top. Ao mesmo tempo, os Limas negociam a importação do produto de um fabricante americano e a venda de uma parte do capital para um dos grandalhões internacionais. Enfim, ?seu? Manoel e os filhos não pretendem colocar as armas nos coldres.