Desde que as pessoas passaram a ficar mais isoladas em casa, por conta da pandemia de Covid-19, os níveis de deficiência de vitamina D de muitos indivíduos aumentaram. Quer no home office ou no presencial, o trabalho vem consumindo muitas horas em ambiente fechado dos que conseguiram superar o desemprego galopante. A falta de exposição ao sol, que produz a vitamina D e é o meio mais eficiente de manter o equilíbrio da substância no organismo, pode levar a problemas como dores nos ossos, fraqueza e até infecções respiratórias.

Mas como saber se uma pessoa está com deficiência de vitamina D? Para responder esta pergunta, o endocrinologista Sergio Setsuo Maeda, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional de São Paulo (SBEM-SP), explica que é necessário verificar a condição clínica do indivíduo.

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O primeiro passo é identificar se é uma pessoa jovem, abaixo de 60 anos, e sem doenças como osteoporose, doença renal crônica, inflamatória ou má absorção. “Nesse caso, os valores de 25 hidroxivitamina D a partir de 20 ng/mL estão adequados”. Esses valores podem ser obtidos a partir de um exame de sangue.

“Se é alguém com mais de 60 anos e/ou osteoporose, fraturas e as condições listadas anteriormente, vale a pena estar acima de 30 ng/mL até no máximo 60 ng/mL”, explica ele.

O que acontece em quem está com déficit de vitamina D?

Em casos muito graves, com concentrações abaixo de 12 ng/mL de vitamina D, é possível desenvolver doenças como raquitismo, em crianças, e osteomalacia, em adultos, conforme afirma Marise Lazaretti Castro, endocrinologista membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). 

“Se tratam de doenças graves, quando há a falta de mineralização do osso”, começa ela, explicando que o osso é um tecido cartilaginoso, que só é rígido porque tem depósito de cálcio.

“Tanto o cálcio quanto o fósforo são fornecidos a partir da absorção intestinal dos alimentos e isso é mediado pela vitamina D no intestino. Então a vitamina D é importante para que a gente aproveite o cálcio e o fósforo da nossa dieta, e ofereça esse aporte para o conseguir se mineralizar”, exemplifica Castro.

Em casos menos graves de deficiência, quando os níveis de 25 hidroxivitamina D estão entre 12 ng/mL e 20 ng/mL, acontece o hiperparatireoidismo secundário. “Quando o PTH das paratireoides acaba subindo porque o cálcio não está sendo absorvido pelos alimentos. Assim, PTH acaba tirando o cálcio do osso para manter o cálcio no sangue dentro da normalidade. Isso acaba levando à osteoporose lá na frente”, aponta a endocrinologista.

Além disso, Castro também alerta que a deficiência da vitamina D está associada a distúrbios no sistema imunológico. “Em casos de deficiências mais importantes, existe um risco maior de ter infecções virais respiratórias. A deficiência vem sendo associada às doenças autoimunes, como artrite reumatóide e lúpus”.

Quem pode fazer suplementação de vitamina D?

A suplementação é indicada em casos de pessoas com maior risco de deficiência da vitamina D, como os idosos, explica Maeda. “Com a idade, a pele diminui o conteúdo dos precursores e eficiência de produção cutânea. Os indivíduos com restrição à exposição ao sol, por câncer de pele ou doenças fotossensibilizantes também a merecem. Outro grupo são os pacientes com má-absorção intestinal, como, por exemplo, aqueles que realizaram cirurgia bariátrica prévia”, explica.

Segundo Castro, a pediatria sempre recomenda que nos primeiros dois anos da criança se faça a suplementação. Ela ainda alerta que tem visto em estudos uma crescente deficiência da vitamina em adolescentes entre 12 e 18 anos, por mudarem seus hábitos de exposição ao sol e concentrando-se em locais mais fechados. Na gestação também se recomenda.

Quanto tempo demora para a suplementação fazer efeito?

“A suplementação é feita com suplementos na forma de cápsulas, comprimidos ou gotas que podem ser dados diariamente ou semanalmente”, conta Maeda. 

O endocrinologista fala que, em geral, deve-se aguardar dois meses para se fazer a reavaliação, quando é prescrita a vitamina D. “Nos casos mais graves é feita uma dose de ataque, mas sempre é necessário fazer a manutenção de modo contínuo, já que os fatores que levaram à vitamina D baixa permanecem”.

Posso fazer suplementação sem receita médica?

Por se tratar de uma medicação fácil de ser encontrada na farmácia e, dependendo da dose, não pede prescrição médica, muitas pessoas acabam fazendo a suplementação por conta própria.

No entanto, Castro faz um alerta sobre os riscos graves de se fazer suplementação de maneira equivocada. “Com a superdosagem é possível chegar à intoxicação”, ressalta ela. 

“Dessa forma, o cálcio no sangue sobe demais, e esse cálcio leva a emagrecimento, náusea, vômitos, insuficiência renal aguda, e pode evoluir para o coma e morte. Além disso, essa hipercalcemia leva muito tempo para curar”, finaliza ela, pedindo para que em caso de déficit da vitamina D, seja consultado um profissional adequado, como um endocrinologista.

Suplementação, consensos e diretrizes sobre a Vitamina D serão um dos destaques da 35ª edição do Congresso Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (CBEM), que acontece entre os dias 3 de 7 de setembro, em São Paulo, e contará com palestras de Maeda e Castro.