Ingredientes, vidro para os frascos, plástico, tampas… a falta de insumos na cadeia de produção de vacinas anticovid preocupa os principais atores do setor, que pediram nesta terça-feira (9) que os obstáculos à sua comercialização sejam removidos.

Os parceiros do sistema Covax (OMS, Aliança para vacinas Gavi e Cepi, seu braço de pesquisa), a Federação Internacional da Indústria Farmacêutica (IFPMA), mas também fabricantes de países em desenvolvimento, especialistas e governos, se reuniram na segunda e hoje numa mesa virtual para discutir os desafios na produção em larga escala das vacinas.

A indústria farmacêutica espera produzir 10 bilhões de doses de vacinas este ano, o dobro da capacidade de fabricação de 2019, todas as vacinas combinadas.

“Este é o maior aumento de produção que o mundo já viu”, disse Thomas Cueni, diretor-geral da IFMPA, o lobby dos grupos farmacêuticos, após a reunião.

“Não é surpreendente que tenhamos visto alguns empecilhos”, acrescentou.

A pandemia de covid-19 matou mais de 2,6 milhões de pessoas desde o final de dezembro de 2019, gerando uma demanda sem precedentes por vacinas.

Para fabricar essas doses, são necessários ingredientes em quantidades sem precedentes, além de vidro para frascos, plástico e até tampas, em um momento em que as cadeias globais de abastecimento sofrem perturbações pela pandemia.

“Vimos nas últimas semanas e meses um aumento nas tensões nas cadeias de suprimentos”, disse Richard Hatchett, diretor do Cepi.

“As empresas estão começando a reportar escassez pontual de materiais essenciais, matérias-primas, (…) e até equipamentos necessários para a fabricação das vacinas”, acrescentou.

Ele apontou, em particular, para o fato de alguns países quererem “impor controles sobre as exportações (…) como os Estados Unidos fizeram com o Defense Production Act.

“Esses mecanismos (…) podem criar problemas reais”, comentou.

Em um comunicado, apelaram à promoção da livre circulação de mercadorias e mão de obra.

Também encorajam transferências de tecnologia e parcerias de produção entre laboratórios e fabricantes de vacinas, como a AstraZeneca com o Serum Institute of India.

No entanto, não é feita menção à proposta da Índia e da África do Sul de um levantamento temporário das patentes submetidas à Organização Mundial do Comércio (OMC), pedido denunciado pelos laboratórios.

“Todos aqueles que conhecem a fabricação de vacinas (…) sabem que a propriedade intelectual não é responsável pelos gargalos, mas sim a escassez de ingredientes e matérias-primas”, declarou o chefe do IFPMA.

Presente na reunião, a novo chefe da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, pediu aos fabricantes de vacinas que aumentem a produção nos países em desenvolvimento, por meio de acordos de licenciamento.

Dados os anos necessários para construir novas instalações, a nigeriana apelou a “tirar o máximo partido das capacidades de produção existentes e reorganizá-las”, uma reconversão que pode ser feita em seis ou sete meses de acordo com a OMC.

Okonjo-Iweala também pediu aos países que retirassem as restrições comerciais introduzidas no contexto da pandemia. Mesmo que tenham diminuído, continuam presentes em pelo menos 60 países, explicou ela.