Com a aproximação das eleições (1º turno é dia 2 de outubro), é natural que o assunto “política” esteja ainda mais presente nas rodas de conversa, seja em reuniões familiares, encontro com amigos e até no ambiente corporativo. Mas nem sempre tocar nesse tema pode gerar uma discussão saudável e positiva, ainda mais quando ela acontece no trabalho.

A situação é delicada, principalmente porque, em alguns casos, defender candidatos ou partidos dentro de uma empresa pode colocar a carreira do profissional em perigo. Na dúvida, especialistas aconselham que o colaborador avalie o ambiente em que está inserido antes de se manifestar.

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“Esse julgamento vem sempre à luz da cultura da organização. Se é uma organização aberta ao diálogo, não vejo problemas em participar de uma discussão democrática sobre política”, comenta Denise Asnis, CEO da Taqe, HRTech de plataforma para candidatos e empresas.

Riscos para a carreira

Asnis admite que se uma pessoa se posiciona politicamente contrária ao que a organização ou sua liderança acredita, é possível que tenha problemas na carreira, que podem acarretar até mesmo na dificuldade de uma promoção, por exemplo.

Emmanuelle Fernandes, especialista em neurociência e Founder da Avulta Contratação Profissional Inclusiva, lembra que a Constituição Federal garante ao cidadão o direito à liberdade de expressão e proteção contra privações por suas convicções e crenças religiosas ou políticas, mas “essa liberdade tem a condicional de que não conflite com os direitos garantidos a outras pessoas, físicas ou jurídicas”.

“Se um colaborador se posiciona com discurso conflitante aos valores da empresa e faz qualquer vinculação de representação a ela, seja de forma indireta como uso do uniforme, ou de forma direta como menção verbal, poderá ser penalizado por isso, mesmo que tenha acontecido fora do ambiente de trabalho”.

Estímulo psicológico

No entanto, a neuropsicóloga afirma que reprimir posicionamentos e a necessidade de discussões sobre temas, inclusive os polêmicos, não favorece nem o psicológico, nem a expansão cognitiva do ser humano. 

“Falar sobre um aprendizado é uma técnica eficiente de consolidá-lo, e ouvir diferentes perspectivas sobre ele estimula a criatividade de pensar soluções diferentes para um mesmo desafio”, explica Fernandes.

Afeta o relacionamento com os demais

Abordar as eleições durante o expediente com colegas de trabalho pode mexer com as relações e o clima corporativo. A especialista em gestão de pessoas e sócia da Croma Recursos Humanos Rosana Marques acredita que cabe ao profissional avaliar o contexto inserido para saber o efeito que o pronunciamento político poderá ter.

Caso a cultura da empresa, a liderança ou os colegas sigam direcionamentos diferentes das suas convicções políticas e não exista espaço para a escuta para ampliar a discussão, o ideal é evitar o assunto para não gerar conflito. 

A maneira como você se comporta durante uma discussão também pode gerar problemas de relacionamento, por isso é importante saber seus limites.  “Se você percebe que não vai se envolver em uma conversa para se comunicar, então melhor guardar. Perceba quando uma conversa está saindo do controle, se você estiver com ‘borboletas no estômago’, se a conversa está acalorada, então melhor parar”, aconselha Asnis.

Fernandes complementa as colegas, indicando que durante o período de eleições, os profissionais evitem piadas, apelidos, jargões, que ridicularizem diversidades políticas.  “Ao se posicionar politicamente, seja presencialmente ou em redes sociais, apresente argumentos lógicos e confiáveis que embasam aquilo que você acredita, sem ataques àquilo em que você não acredita. E deixe claro que essa é sua opinião individual, não divulgue sua empresa e nem cite pessoas que não te autorizaram como porta-voz”.

Neutralidade pode ser mal vista

Se o ambiente de trabalho estimula que os profissionais tenham uma discussão saudável sobre política e você se esquiva o tempo todo, pode pegar mal. Fugir do assunto pode passar a impressão de que você não se importa com o coletivo ou não é confiável por não se abrir com os colegas.

Marques aponta uma outra situação, quando o chefe puxa o assunto e o profissional não se sente seguro o suficiente para dar a opinião e, para ser simpático, se posiciona favorável ao seu superior. “Isso pode atrapalhar a reputação dele com os colegas que sabem do real posicionamento”.

Nessa situação a especialista em RH aconselha que o profissional tente encontrar um meio termo. “Sem se colocar vulnerável ou se flexibilizar demasiadamente, a ponto de parecer corrompido, mas também sem buscar o embate com o chefe”.

Benéfico à democracia

A CEO da Taqe reforça que, de maneira geral, falar sobre eleições no trabalho é benéfico à democracia. “Tem a ver com trazer opiniões divergentes para a mesa, com disponibilidade de entender pontos de vista, perceber como a pessoa pensa e reage sobre questões que vão além dos interesses individuais”, pontua.

E continua: “O cuidado sempre está nos extremos: quando não se posiciona ou vai com emotividade nesse lugar. Mas uma discussão com respeito é muito saudável para a corporação e desenvolvimento profissional”.

A neurocientista completa dizendo que trabalhar a diversidade de opiniões abre espaço para trabalhar a diversidade como um todo nas empresas, fomentando uma cultura atitudinal que incentiva discussões baseadas na educação, informações acessíveis a todos, e respeito.