O marqueteiro americano Arick Wierson, que trabalhou nas campanhas eleitorais do ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, entre 2001 e 2009, conhece o Brasil a fundo, pois morou por aqui entre 1993 e 2000. Pós-graduado em economia pela Unicamp, agora ele voltou ao País para tentar eleger um presidente, por meio de sua agência de marketing político TZU. Em sua avaliação, um dos principais desafios dos estrategistas eleitorais será lidar com as fake news. “Elas já fazem parte da dinâmica política do Brasil”. Wierson concedeu uma entrevista à repórter Priscilla Arroyo:

Como foi trabalhar com Michael Bloomberg?
Na campanha de 2001, eu era responsável pela produção dos eventos e auxiliava na comunicação entre o prefeito e comunidades específicas da população, como os hispânicos. De 2002 até 2009, fui secretário de mídia e comunicação da prefeitura. Em 2005, apoiei a campanha, mas como contratado oficial.

Por que o sr. escolheu o Brasil para implantar a sua nova agência de marketing político?
O Brasil foi um caminho natural para eu e meus três sócios implementarmos uma agência, pois esse mercado demanda novas ferramentas para lidar com redes sociais. Há muito espaço para crescer. O plano é investir R$ 5 milhões até 2022.

No que o marketing político brasileiro se diferencia do americano?
Os americanos compartilham muita informação no Twitter, no Facebook e no Snapchat. No Brasil, os grupos de WhatsApp são mais relevantes. Estamos criando ferramentas para lidar com essa diferença. As táticas e os instrumentos que vamos utilizar podem vir dos Estados Unidos, mas é preciso adaptá-las à linguagem brasileira. Por exemplo, quando pensamos em usar o humor. O que diverte um americano não é engraçado para um brasileiro.

E as fake news? Lidar com isso será um grande desafio?
Sim, pois as fake news já fazem parte da dinâmica política no Brasil. Há maneiras de limitar isso, mas infelizmente a tendência é crescer. Depois das fake news escritas, a próxima geração de fraudes são vídeos com falas adulteradas. Toma-se a gravação de alguém falando e ela é dublada com a voz de outra pessoa, transmitindo uma mensagem completamente diferente. Isso já existe nos Estados Unidos e deve aparecer em breve no Brasil.

Como defender os candidatos de notícias falsas?
Depende das circunstâncias. De modo geral, as fake news visam a prejudicar um candidato. Mas sempre há a possibilidade de virar essa situação a favor da vítima.

Mudou a maneira de lidar com dados pessoais depois do escândalo da Cambridge Analytica?
Você tem que ter mais compliance em relação aos dados da campanha. Nós já identificamos quais serão as fontes dos nossos dados, que serão públicos. O objetivo é identificar tendências e correlações para formar grupos segmentados com os quais iremos trabalhar.

A próxima eleição presidencial deve ser a mais incerta desde a redemocratização. Há alguma estratégia específica?
Toda eleição é difícil, pois tudo pode mudar a qualquer momento. É muito cedo para prever alguma coisa, pois as alianças ainda estão sendo formadas e teremos o intervalo da Copa do Mundo, que vai distrair o eleitor.

A Copa do Mundo entraria na estratégia de vocês? Como trabalhar o futebol na campanha?
Claro. Porque futebol é praticamente uma religião no Brasil. Só não entra se a Seleção tiver um péssimo desempenho em campo. Como fazer vai depender do candidato com quem estivermos trabalhando, pois cada público tem uma relação diferente com esse tema. Pode ser um tiro no pé politizar o futebol, pois alguns eleitores não vão gostar de ver o esporte atrelado à política.

O Partido Novo, de João Amoêdo, é um cliente?
Estamos negociando com três políticos, mas os nomes ainda são confidenciais.

(Nota publicada na Edição 1072 da Revista Dinheiro, com colaboração de: Márcio Kroehn e Pedro Arbex)