Na sala de Carla Affonso, diretora-geral da Endemol Globo (EG), não pode faltar um aparelho de televisão. Ou melhor, vários deles. Durante o expediente, ela acompanha tudo o que a parceria entre TV Globo e a produtora holandesa Endemol está produzindo. E, diga-se, são programas que estão entre os maiores índices de audiência alcançados pela tevê da família Marinho: Big Brother Brasil, Fama, Acorrentados, Amor a Bordo, A Guerra do Sono e Hipertensão ? aquele em que os participantes comiam coisas como minhocas e grilos, lembra? Apesar da parceria ter sido formalizada em agosto de 2001, a EG é praticamente uma recém-nascida. Sua estrutura e equipe começaram a ser formadas em agosto do ano passado, com a missão de coordenar a produção dos programas idealizados pela Endemol por aqui. Detalhe: como uma empresa independente, a EG está atrás de outros clientes. “A Globo é sócia e principal cliente. Pode escolher primeiro nossos programas, mas já estamos em contato com outras emissoras”, afirma Carla Affonso.

Por enquanto, a companhia ainda é uma importadora. Traz para o País tudo aquilo que é feito pelas unidades da Endemol em 22 países. O acervo conta com mais de 500 programas. A EG, no entanto, acha que eles podem não ser suficientes. “Vamos nos preocupar também em criar programas, especialmente aqueles que têm potencial para a venda no mercado externo”, diz Carla. Esse é o modelo de negócio da empresa holandesa. Ela se associa às principais produtoras de cada país onde atua. Depois disso, passa a ser uma espécie de cérebro da operação. Cria os programas e desenvolve toda a produção, de cenários ao posicionamento das câmeras. Depois, vende esse formato pronto e fatura os royalties pela exibição e pelos licenciamentos que venha a gerar. Com a ajuda a empresa local, ela produz tudo e ainda faz as adaptações necessárias ao gosto do público.

A executiva não revela quais serão as próximas novidades da empresa por aqui, mas garante que continuam apostando em reality shows e outros jogos para televisão. “Como são programas interativos, eles também tem potencial para licenciamento por empresas de internet e operadoras de telefonia”, explica. Há ainda negociações em andamento para fazer do Brasil locação para os programas das outras unidades ? as paisagens de “Amor a Bordo”, por exemplo, surpreenderam os executivos estrangeiros.

Carla também não conta o faturamento da companhia. Lá fora, a Endemol fechou 2002 com um faturamento de US$ 935 milhões. A empresa foi vendida em 2000 para o grupo Telefônica, o que colocou seus antigos sócios, Joop van den Ende e John de Mol, entre os homens mais ricos do mundo. No ano passado, a fortuna de cada um deles estava avaliada em US$ 1 bilhão. Den Ende deixou a companhia e De Mol assumiu como principal executivo. Foi o criador do Big Brother e cuidou das primeiras negociações por aqui. Agora, passa a bola para Carla, que tem de ficar de olho nas telinhas para manter-se no topo dos índices de audiência.