Desde 2010, apenas Mercedes e Red Bull comemoraram o título de campeã da Fórmula 1.E os primeiros resultados de 2019 não parecem mudar essa monotonia. Das quatro corridas disputadas até então, os dois pilotos da escuderia alemã revezaram o primeiro e segundo lugar mais alto do pódio, deixando como única emoção aos fãs imaginar quem vai conquistar a terceira colocação.

A hegemonia entre as duas equipes faz paralelo à queda de audiência da mais famosa categoria de corrida do mundo. Desde 2010, segundo levantamento da Bloomberg, o público está cada vez mais distante das corridas, chegando ao piso de 352 milhões de expectadores na temporada passada. Em 2017, a audiência F1 caiu dois quintos em comparação a década anterior.

A gradativa rejeição dos fãs se tornou uma grande dor de cabeça para John Malone, fundador e dono do grupo Liberty, que pagou US$ 4,4 bilhões para ter controle da F1 em 2017. O cenário atual deixa o bilionário em uma encruzilhada: ao mesmo tempo em que vê o público diminuir, enfrenta resistência e ameaças de abandono das principais – e mais lucrativas -, escuderias caso ele decida mudar as regras do jogo.

“Tem que haver algum grau de contenção de custos e um rateio mais apropriado de receita para criar uma rede competitiva”, diz Sean Bratches, ex-executivo da ESPN e atual chefe de operações comerciais da Fórmula 1.

A competição é regida pelo Pacto de Concórdia, definido em consenso entre as dezenas de equipes participantes, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA), e a empresa controladora do negócio, no caso o grupo Liberty. A próxima revisão está prevista para 2020, porém ela é concluída geralmente um ano e meio antes do prazo para dar tempo de todas as equipes se prepararem para as novas regras.

Desta vez as coisas estão mais lentas. Entre as mudanças propostas, a Liberty quer limitar o orçamento das escuderias para evitar que as poucas que tem mais dinheiro tenha muito mais vantagens sobre as demais. A premiação final também é alvo de polêmica. Malone quer que o prêmio seja distribuído de forma mais justa entre todas as escuderias como um incentivo de permanecer na Fórmula 1 na temporada seguinte.

“As equipes no topo não querem um limite orçamentário porque há uma correlação direta entre o valor gasto e a frequência de vencimento”, afirma Christian Sylt, diretor da Formula Money, uma empresa de consultoria esportiva.

Além do problema com as escuderias, o grupo Liberty também precisa lidar com o cada vez maior descontentamento dos donos das pistas de corrida. Hoje, os donos dos espaços pagam para receberem a corrida, e tentam recuperar o investimento através da venda de ingressos. Com a redução de público, automaticamente a receita cai e o negócio deixa de ser atrativo.

A mudança pode impactar em circuitos tradicionais, como o de Silverstone, na Inglaterra, que está cogitando fazer a deste ano a última corrida desde 1950, mesmo ano de fundação da competição. A administradora da pista de Hockenheimring, na Alemanha, também ameaçou desistir pela inviabilidade do projeto.

“Do ponto de vista financeiro, tem que ser acessível. Corridas de F1 não podem ser um risco tão grande para os promotores”, diz Jorn Teske, diretor de marketing da pista alemã.

Com o perdão do trocadilho, a disputa entre Liberty e as escuderias ainda é uma corrida longe do fim, porém, é mais emocionante de acompanhar do que as monótonas corridas de domingo.