Ainda chocado com sua repentina expulsão da Turquia, Mohammad Hassan espera na fila do posto de fronteira no norte da Síria em guerra, preocupado com o destino que o espera em seu país natal.

“Eu não conheço mais nada deste país”, resume o jovem de 22 anos com o rosto triste, vestindo uma jaqueta preta e boné.

Após cerca de sete anos no exílio, foi enviado de volta no final de julho – com apenas o que tinha na mochila – para a Síria que ele havia deixado quando era adolescente.

Dezenas de outros na mesma situação aguardam no posto fronteiriço de Bab al-Hawa, forçados a abandonar a vizinha Turquia por causa de uma operação em Istambul contra aqueles que as autoridades turcas descrevem como migrantes “irregulares”.

Sem poder se defender ou explicar seu caso, o jovem irá para Idlib, província do noroeste da Síria dominada por jihadistas e alvo diário de bombardeios. Idlib escapa ao controle do regime sírio.

“Minha família está em Aleppo, mas não posso ir para lá”, diz ele, enquanto a segunda maior cidade da Síria, a apenas algumas dezenas de quilômetros de Bab al-Hawa, é controlada pelo regime.

Os jovens sírios que retornam para casa temem ser alistados para o serviço militar obrigatório e ser enviados para a frente de combate. Também temem as prisões arbitrárias denunciadas pelas ONGs.

A guerra na Síria, que começou em 2011 depois da sangrenta repressão a protestos pró-democracia pelo regime de Bashar al-Assad, já provocou mais de 370.000 mortos e deslocou mais da metade de sua população.

Com mais de 3,5 milhões de refugiados, a Turquia recebe mais sírios deslocados pelo conflito do que qualquer outro país do mundo.

– “Eles mentiram” –

Hassan vivia em Istambul, mas sem o devido visto. Desde 12 de julho, as autoridades turcas prendem em massa imigrantes estrangeiros “irregulares” na cidade, num contexto de crescente sentimento antimigrante.

Mais de 6.000 pessoas, incluindo sírias, foram presas em duas semanas, segundo o governo.

O ministro do Interior, Süleyman Soylu, negou que os sírios estão sendo deportados para o seu país, assegurando que são enviados para campos de refugiados e que alguns optam por voltar voluntariamente.

As ONGs, no entanto, acusam as autoridades de forçar centenas de sírios a assinar documentos certificando que estavam retornando voluntariamente.

“A Turquia diz que ajuda os sírios que querem voltar voluntariamente ao seu país. Mas ameaça prendê-los até que concordem em voltar. Forçá-los a assinar documentos e libertá-los em uma zona de guerra não é voluntário ou legal”, acusou Human Rights Watch.

Hassan viveu essa experiência. Em várias ocasiões, tentou regularizar sua presença em Istambul, obtendo o “documento de proteção temporária”, mas as autoridades “pararam de entregá-los aos sírios”, diz.

Ele acabou sendo preso. Depois de mais de uma semana na prisão, recebeu documentos para assinar. Foi dito a ele que era para ficar legalmente na Turquia. “Eles mentiram para nós”, diz o jovem.

“No dia seguinte, nos colocaram em ônibus e nos mandaram de volta para a Síria”.

Na quinta-feira, a oposição síria no exílio afirmou ter recebido garantias das autoridades turcas de que não haveria deportações.

– Sem família –

Mas as expulsões são diárias, principalmente para os sírios que entraram ilegalmente na Turquia, disse o porta-voz do posto de fronteira de Bab al-Hawa, Mazen Allouche.

Desde o início de julho, mais de 4.400 sírios foram repatriados.

Na sala de chegadas em Bab al-Hawa, Louai Mohamed, de 23 anos, também está chocado com sua partida inesperada, após ter sido transportado para a fronteira no meio da noite.

“Eu não sei como vou começar uma nova vida aqui”, diz o jovem, que retorna pela primeira vez à Síria em quatro anos.

Vivendo em Antalya, no sul da Turquia, onde trabalhava em um restaurante, foi preso quando acompanhava um amigo ferido no hospital depois de uma briga com turcos.

“Eles nos trouxeram ao posto”, diz ele, assegurando que foi transferido para um centro de detenção onde já havia cerca de 350 estrangeiros, incluindo afegãos.

Ele vai tentar chegar a sua cidade natal de Minbej (norte).

Se encontrar um emprego lá, terá que viver longe dos seus parentes. “Minha família não está na Síria”, diz ele. “Dois dos meus irmãos ainda moram na Turquia”.