A maior expedição científica já realizada no Ártico deve começar nesta sexta-feira (20) com uma missão internacional de um ano para estudar as consequências das mudanças climáticas particularmente tangíveis no Polo Norte – informou o instituto alemão que lidera a iniciativa.

O quebra-gelo “Polarstern”, do Instituto Alfred-Wegener de Bremerhaven (noroeste da Alemanha), deve deixar o porto norueguês de Tromsø por volta das 20h30 (15h30 de Brasília) como parte dessa missão chamada “Mosaic”.

“É um acontecimento importante, um sonho que se torna realidade”, considerou o chefe da missão, Markus Rex, em uma coletiva de imprensa em Tromsø, horas antes da partida do “Polarstern”.

“Estamos impacientes em poder realizar pesquisas de que precisamos urgentemente para entender melhor o clima ártico”, acrescentou.

No total, 600 cientistas vão se revezar por cerca de 390 dias, com o quebra-gelo percorrendo um total de 2.500 km. As equipes enfrentarão 150 dias de noite polar e temperaturas que podem cair a -45°C. Além disso, seis pessoas serão responsáveis por localizar e manter afastados os ursos polares.

“Pronto para dizer adeus ao sol (…) Vamos trabalhar na escuridão total, estaremos isolados, a mais de mil quilômetros de outros seres humanos”, detalhou o cientista. “Vamos ter que administrar todo o tipo de problema, especialmente médicos”, completou.

Os cientistas estudarão a atmosfera, o oceano, o mar de gelo e o ecossistema para coletar dados que mostrarão como as mudanças climáticas estão afetando a região e todo mundo.

“Nenhuma outra parte da Terra se aqueceu tão rápido nas últimas décadas quanto o Ártico”, disse Markus Rex no site do “Mosaic”.

“É aqui que se localiza o epicentro do aquecimento global e, ao mesmo tempo, até agora entendemos muito pouco sobre essa região”, afirmou.

“Não conseguiremos fazer uma boa previsão do nosso clima, se não tivermos prognósticos confiáveis para o Ártico”, diz ele.

A situação no Ártico é preocupante. “No começo do ano, tivemos um caso extremo: no centro do Ártico fez mais calor do que na Alemanha”, ressaltou.

O “Polarstern” será acompanhado por quatro quebra-gelos de Rússia, China e Suécia, além de aviões e helicópteros para reabastecer e permitir às equipes um rodízio.

Várias estações de observação serão instaladas ao redor da embarcação, a mais distante a cerca de 50 quilômetros.

Para cumprir com sucesso a missão, o navio entrará no gelo e se deixará levar pelo movimento polar, uma corrente oceânica que corre de leste a oeste no Oceano Ártico.

Em média, o gelo se desloca a cerca de 7 quilômetros por dia e deve levar o “Polarstern” até mil quilômetros de terra firme.

“Para nós, cientistas, é importante proteger o meio ambiente e agir para que as próximas gerações continuem a ver o mar de gelo, no qual faremos essas pesquisas”, disse Rex.

Sessenta institutos e 19 países estão cooperando neste projeto, que tem um orçamento de 140 milhões de euros e deve coletar pela primeira vez dados abrangentes sobre o clima no Polo Norte.