Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar perdeu amplo terreno para o real nesta quinta-feira, registrando sua maior desvalorização diária em mais de dois meses e o menor patamar desde o início de outubro, em meio a expectativas de aperto monetário mais intenso no Brasil e a otimismo em relação ao avanço da PEC dos Precatórios no Congresso.

A divisa norte-americana negociada no mercado interbancário caiu 1,80%, a 5,4031 reais na venda. Essa foi a queda mais forte desde 24 de agosto deste ano (-2,25%) e seu menor patamar para encerramento desde 1° de outubro (5,3696).

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Entre as principais moedas globais, o real apresentou, com folga, o melhor desempenho em relação ao dólar nesta sessão. Na mínima do dia, a divisa norte-americana chegou a cair 2,06%, para 5,3888 reais.

Participantes do mercado citaram o noticiário em torno da PEC dos Precatórios como um dos responsáveis por esse comportamento, desencadeado movimento de desmonte de posições defensivas. Aprovada em segundo turno na terça-feira pela Câmara, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) modifica a regra de pagamento dos precatórios –dívidas do governo cujo pagamento foi determinado pela Justiça– e altera o prazo de correção do teto de gastos pelo IPCA.

Isso não é visto como positivo para a credibilidade do Brasil, uma vez que o texto prevê a alteração de regras da principal âncora fiscal do governo, mas muitos investidores passaram a enxergar a PEC como a melhor alternativa disponível para o governo financiar benefícios sociais de 400 reais por família em 2022, ano eleitoral.

Embora a proposta ainda precise passar pelo Senado — e talvez até voltar para a Câmara dos Deputados, caso haja modificações no texto –, seu progresso recente “acaba aliviando tensão e risco fiscal que ganharam cada vez mais peso nos ativos locais” nas últimas semanas, comentou João Vítor Freitas, analista da Toro Investimentos. “Dá um pouco mais de previsibilidade para os mercados.”

Além da PEC, investidores continuavam repercutindo dados de inflação domésticos, divulgados na véspera, que poderiam aumentar a pressão sobre o Banco Central para que intensifique seu atual ciclo de aperto monetário.

Na quarta-feira, o IBGE informou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 1,25% em outubro, após alta de 1,16% no mês anterior, alcançando a maior variação para o mês desde 2002 (1,31%). Em 12 meses, a alta foi de 10,67%, resultado mais forte desde janeiro de 2016 (+10,71%). Ambas as leituras vieram bem acima da expectativa em pesquisa da Reuters.

Caso o BC aja com mais firmeza no sentido de elevar os custos dos empréstimos para esfriar os gastos e, consequentemente, segurar a inflação, o real pode ser beneficiado, uma vez que juros mais altos tendem a atrair recursos estrangeiros para os mercados de renda fixa domésticos.

A taxa Selic está atualmente em 7,75% ao ano, após o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC promover alta de 150 pontos-base em seu último encontro.

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