A empresa de recrutamento de executivos Robert Half deve lançar nos próximos dias a quarta edição de sua pesquisa sobre o índice de confiança dos profissionais qualificados brasileiros, aqueles que têm mais de 25 anos, possuem curso superior completo e que atuam no setor privado. Por mais que o PIB vá crescer cerca de 2,5% neste ano, a confiança das pessoas na economia e no mercado de trabalho piorou. O pessimismo no curto prazo passou de 31,4 pontos para 30,9 pontos. Já em relação aos próximos seis meses de 52,9 pontos para 50,2 pontos. Quanto menor a pontuação, pior é o cenário. O diretor-geral da empresa no Brasil, o executivo Fernando Mantovani, falou com a coluna:

A pesquisa trimestral que a Robert Half faz mostra que piorou o índice de confiança do profissional qualificado na economia e no mercado de trabalho. A que se deve isso?
Tem uma onda de notícias ruins que aumentou o grau de desconfiança. É problema de câmbio, do PIB não estar crescendo como deveria estar crescendo, do desemprego não estar decaindo como vinha decaindo. Tudo muito ruim de uma vez. Tudo isso traz insegurança.

Mas os seus clientes têm cancelado contratos para busca de profissionais no mercado?
Até o momento, ninguém disse para parar ou congelar a procura por candidatos. Não mudamos nossos planos e continuamos contratando. Mas vejo as notícias quatro vezes por dia.

Esse ambiente ruim pode contaminar a economia e as contratações?
Sim, isso contamina. Hoje, a insegurança é generalizada. O ambiente do País não é saudável no momento e traz uma carga de preocupação muito grande. A própria incerteza com as eleições traz isso. Você tem, de um lado, candidatos prometendo os céus. De outro, um candidato, que é o Meirelles (ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles), dizendo que o que estão falando que irão fazer vai quebrar o País. Todos ficam preocupados. Se nada for feito para melhorar esse ambiente, existe o risco de as empresas segurarem os investimentos.

E no caso da Robert Half, a empresa cresceu?
Crescemos bastante no primeiro trimestre. Tenho muita demanda nas áreas de engenharia e marketing e eventos. Mas voltou demanda forte em jurídico, recursos humanos e áreas de suporte. Isso só acontece quando as empresas estão se estruturando para voltar a crescer.

Esse cenário é dicotômico. A sua pesquisa mostra queda na confiança, mas a sua empresa cresce. Qual é a explicação?
Existem algumas razões. Primeiro, tivemos um ganho de participação de mercado. Segundo, há um serviço que não era utilizado e hoje é usado, como o serviço temporário. E as empresas estão buscando a gente para isso. Terceiro, pode ser consolidação do mercado. Como teve uma época de baixa, algumas empresas desaparecem e o cliente vai buscar as que sobraram. As empresas também enxugaram quadros de RH e agora estão buscando quem faz esse serviço de contratação.

Quanto tempo vai voltar para a sua empresa recrutar o número de profissionais que buscava em 2011, 2012, quando a economia crescia?
Se o solavanco do País for temporário, se o próximo presidente tiver compromisso fiscal, em 2020 voltaremos a contratar como em 2012.

(Nota publicada na Edição 1071 da Revista Dinheiro, com colaboração de: Cláudio Gradilone)