A diretora financeira da gigante chinesa Huawei, Meng Wanzhou, viajava neste sábado (25) de volta ao seu país, depois que sua prisão domiciliar no Canadá foi encerrada no âmbito de um acordo com os Estados Unidos.

Paralelamente, dois canadenses foram libertados na China, encerrando assim um conflito diplomático e judicial que já durava três anos.

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Meng, o ex-diplomata canadense Michael Kovrig e o empresário Michael Spavor foram libertados quase ao mesmo tempo numa operação agora apelidada de “a diplomacia dos reféns”.

Nesses três anos, “minha vida se transformou”, disse a repórteres Meng, de 49 anos e filha do fundador da gigante das telecomunicações Ren Zhengfei.

Rapidamente, Meng embarcou em um avião com destino à cidade chinesa de Shenzhen, o que a livra da ameaça de extradição para os Estados Unidos, onde é acusada de fraude bancária.

Do avião, Meng postou uma mensagem nas redes sociais agradecendo “o partido e o governo” chineses. “É esse vermelho brilhante chinês que me guia nesta longa jornada de retorno”, escreveu.

– Os “dois Michaels” fora da China –

Quase ao mesmo tempo, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau anunciou a libertação de dois cidadãos canadenses que estavam presos na China desde o final de 2018, o que Ottawa sempre encarou como uma retaliação pela prisão de Meng.

“Há 12 minutos, o avião que transporta Michael Kovrig e Michael Spavor deixou o espaço aéreo chinês e se dirige ao Canadá”, informou o premier em entrevista coletiva, sem dar detalhes sobre as circunstâncias de sua libertação.

Dias após a prisão de Meng no Canadá, a China deteve o empresário canadense Michael Spavor – que em agosto foi condenado a 11 anos de prisão por espionagem e roubo de segredos de Estado – e o ex-diplomata Michael Kovrig, provocando uma séria crise diplomática entre Pequim e Ottawa.

A China, por sua vez, sempre considerou o caso Meng como “um incidente puramente político”.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, elogiou a decisão das autoridades chinesas de libertar os dois canadenses após sua prisão “arbitrária”.

O retorno de Meng à China foi o resultado de um acordo entre o Departamento de Justiça e a gigante chinesa para evitar acusações de fraude por crimes graves.

O governo dos Estados Unidos propôs “adiar” o processo contra a empresária até o final de 2022. Se antes de 1º de dezembro o pacto não for impugnado ou rompido, as autoridades dos EUA retirarão todas as acusações.

Além disso, o acordo previu que os Estados Unidos aconselhariam o Canadá a soltar Meng e retirar o processo de extradição.

– “Uma espinha a menos” –

A Justiça americana a acusou de ter mentido para um executivo do banco HSBC durante uma reunião em Hong Kong em 2013 sobre os vínculos entre o grupo chinês e uma subsidiária chamada Skycom que vendia equipamentos para o Irã.

Segundo o Departamento de Justiça americano, a acusada admitiu ter desempenhado um “papel fundamental” no esquema financeiro que a Huawei orquestrou para poder continuar a fazer negócios com o Irã e contornar as sanções impostas por Washington ao país.

A empresária sempre negou as acusações das autoridades dos EUA.

Neste sábado, a Huawei declarou que vai “se defender” das acusações segundo as quais a empresa ignorou as sanções contra o Irã.

Na China, o reconhecimento de Meng desses fatos foi literalmente apagado da Internet.

A agência de notícias Xinhua declarou que ela estava retornando à China “graças aos esforços implacáveis do governo chinês” e o editor-chefe do jornal Global Times afirmou que ela foi “libertada após se declarar inocente”.

A mídia estatal chinesa também não mencionou a libertação dos dois canadenses.

Embora as relações entre Canadá e China “nunca voltem a ser como antes”, resolver esta situação é “uma espinha a menos” nas relações bilaterais, avaliou o ex-embaixador canadense na China, Guy Saint-Jacques.

Mas o fato de a libertação de Meng coincidir com a dos dois canadenses “confirma que há uma diplomacia de reféns” e que “funciona”.

Com a prisão de Meng, a China considerou que o governo dos Estados Unidos, então a cargo de Donald Trump, buscava principalmente enfraquecer a Huawei, empresa líder mundial em equipamentos e redes 5G.

Desde 2019, a Huawei é alvo de sanções dos Estados Unidos, que acusam a empresa de espionar seus telefones em favor da China, o que enfraqueceu a empresa internacionalmente.