A reportagem da DINHEIRO teve acesso a um vídeo que mostra Fernanda Braga de Lima, dona da Gradual Investimentos, negociando com os sócios da Incentivo Investimentos, André Arcoverde, Maurício Kameyama e Isaltino Andrade. Nessa reunião, também está presente Gabriel Paulo Gouvêa de Freitas Júnior, marido e sócio de Fernanda. O objetivo da conversa era contornar a compra irregular de uma debênture feita pela Gradual para um fundo gerido pela Incentivo. As imagens mostram Fernanda pedindo o prazo para a retirada desse papel dos ativos do fundo e como será feita a operação.

A Gradual foi alvo da Operação Papel Fantasma, deflagrada na manhã dessa quinta-feira, que está investigando crimes contra o sistema financeiro nacional envolvendo a aquisição de papéis sem lastro (debêntures) por fundos de investimentos. Os cotistas desses fundos são institutos de previdência municipais. Policiais federais cumpriram nove mandados de busca e apreensão, expedidos pela 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo. “A investigação está no início, mas o prejuízo é de centenas de milhões de reais para os institutos de previdência e para os previdenciários”, diz o delegado Victor Hugo Rodrigues Alves, chefe da unidade de combate ao crime financeiro em São Paulo da Polícia Federal. “O dinheiro dos servidores estava sendo desviado para títulos que jamais seriam honrados.”

A Operação Papel Fantasma confirma a reportagem da DINHEIRO, publicada em 9 de junho, que mostra como a Gradual emitiu e distribuiu a debênture ITSY11 para fundos de investimento. Uma das prejudicadas foi a Incentivo Investimentos, que era a gestora de um fundo cujos cotistas eram os municípios paulistas de Osasco, Porto Ferreira, São Sebastião, Jandira entre outros. A emissora desse título é a ITS@ Tecnologia para Instituições Financeiras, que pertence à GF Systems Tecnologia da Informação.

À época da emissão, o capital social dessa companhia era de apenas R$ 10 mil. A empresa tem como sócios Fernanda de Lima e seu marido e sócio, Gabriel Paulo Gouvêa de Freitas Júnior. “Não verificamos nenhum produto ou serviço prestados por essa empresa”, afirma o delegado Rodrigues Alves. “É comum criar empresas de fachada de tecnologia, tanto pela possibilidade de dizer que é uma startup como pela expectativa de lucro que pode gerar.” Abaixo, o vídeo divulgado pela PF no momento da apreensão de mídias e documentos na residência de um dos controladores da Gradual:

A Gradual encaminhou essa nota de esclarecimento à imprensa:

“A empresa de serviços financeiros Gradual Investimentos vem a público esclarecer informações sobre a Operação Papel Fantasma, realizada hoje pela Polícia Federal (PF) na sede da empresa, em São Paulo.

“A operação faz parte de procedimento padrão conduzido pela PF, dentro de Inquérito Policial instaurado em Janeiro deste ano, na capital paulista. A Gradual prestou todos os esclarecimentos à equipe de investigadores e se colocou à disposição das autoridades para a elucidação dos fatos.

A Gradual ainda esclarece que esta operação é resultado das falsas acusações e ações de denuncismo orquestrados nos últimos meses pela gestora de fundos Incentivo e pelo escritório deChiarottino & Nicoletti Advogados, em represália deste grupo pela sua destituição dos fundos Incentivo Multisetorial I e Incentivo Multisetorial II, no dia 06 de março, e do fundo Piatã, em 13 de junho, nas respectivas assembleias de cotistas.

“Tanto a Incentivo, como o escritório Chiarottino já são alvos de ações cíveis e criminais ajuizadas pela Gradual por fraudes cometidas na gestão de fundos de investimentos de Regime Próprio de Previdência Social.

“A Gradual reitera a seus clientes, parceiros, gestores e investidores que cumpre todas as normas e os regulamentos referentes à sua atuação no mercado de capitais e que não compactua com práticas ilícitas.”