A batalha entre Traders Clube (TC) e Empiricus terá novos lances na próxima semana. DINHEIRO apurou com exclusividade que o departamento jurídico da Empiricus está preparando uma contestação em várias esferas – cível, criminal e no âmbito do mercado de capitais – para questionar declarações do presidente do TC, Pedro Albuquerque, divulgadas em uma entrevista coletiva concedida na noite da terça-feira (26). Segundo documentos obtidos por DINHEIRO, peritos contratados pela Empiricus detectaram vários indícios e sinais de que o material apresentado pelo TC durante a entrevista coletiva era falso. O caso se refere à autoria do que ficou conhecido como “vídeo da palhaça”.

Relembre o caso. No início de julho, começou a circular um vídeo anônimo em que uma moça caracterizada como palhaça acusava a plataforma de pesquisa e recomendação de investimentos TC de diversos crimes. As acusações são graves. Vão de manipulação no mercado de ações a assédio sexual e estupro, que teriam ocorrido nos escritórios do TC, localizados na Avenida Faria Lima, zona Sul de São Paulo.

Segundo Pedro Albuquerque declarou durante a coletiva, o vídeo é de autoria da concorrente Empiricus, em uma tentativa de afetar o TC e reduzir sua participação de mercado. Além disso, Albuquerque afirmou que os fundos geridos pela Vítreo, gestora de recursos ligada à Empiricus, estariam apostando na queda das cotações da TC, uma estratégia de mercado conhecida como “short”, ou vendas a descoberto.

Peritos constataram que provas apresentadas pelo TC, de que Felipe Miranda e Caio Mesquita trocaram mensagens sobre publicação de vídeo, foram forjadas

Na coletiva, que permitiu apenas uma pergunta de um jornalista não identificado, Albuquerque acusou a Empiricus de atacar a reputação do TC usando o vídeo com a moça caracterizada como palhaça. Para sustentar essas acusações, Albuquerque exibiu reproduções de conversas de WhatsApp. Nas reproduções, apareciam diálogos atribuídos a Felipe Miranda e a Caio Mesquita, principais sócios da Empiricus, orientando profissionais de marketing digital para divulgar o vídeo para o maior número de usuários possível. No material a que DINHEIRO teve acesso, peritos em informática contratados pela Empiricus concluíram que o material era apócrifo e havia sido forjado com o intuito de incriminar Miranda e Mesquita. Segundo os peritos, as imagens exibidas mostram inconsistências como erros na grafia do pretenso código-fonte do programa e a alternância de contas de WhatsApp pessoais e corporativas, o “WhatsApp Business”.

Os peritos também detectaram inconsistências na atribuição das falas entre a reprodução das telas do celular e a reprodução dos códigos-fonte. Por exemplo, declarações que na reprodução das telas eram atribuídas a Miranda apareciam como sendo de Mesquita nos códigos-fonte, e vice-versa.

Outro ponto relevante é que a conta atribuída a Caio Mesquita indicava que ele nunca havia compartilhado nenhum link, texto ou arquivo com outro usuário do WhatsApp, o que pode configurar contas recém-criadas.

A disseminação do vídeo custou caro ao TC, única empresa desse tipo a listar suas ações na B3. A companhia abriu capital há cerca de um ano, no dia 27 de julho de 2021, valendo R$ 2,68 bilhões. Em seu momento de maior valorização, sua capitalização de mercado era de R$ 3,7 bilhões. No entanto, as ações vêm caindo desde março de 2022, devido à alta de juros pelo Banco Central (BC). Juros mais altos reduzem o interesse pela renda variável e podem afetar o negócio do TC, que depende da venda de relatórios e análises para os investidores pessoa física.

No fim de junho, antes da divulgação, o valor de mercado do TC na bolsa era de R$ 2,04 bilhões. O vídeo surgiu no dia 29 de junho. Após a divulgação, os preços desabaram e o valor de mercado encolheu R$ 497 milhões em um dia. No momento de maior baixa em julho, o valor de mercado da empresa era de R$ 1,01 bilhão, perda de 62% em relação ao dia da abertura de capital.

Segundo fontes a par do assunto, o departamento jurídico da Empiricus está preparando contestações em três fontes: no âmbito do mercado de capitais, por tentativa de manipulação e disseminação de informações falsas. E nas esferas cível e criminal, por calúnia.