O ex-primeiro-ministro britânico David Cameron, acusado de atividades polêmicas de lobby no centro de um escândalo político após a falência do grupo financeiro Greensill, negou nesta quinta-feira (13) diante de uma comissão parlamentar que tenha “infringido as regras”.

O ex-líder conservador era assessor dessa companhia especializada em empréstimos de curto prazo para empresas, que faliu em abril por acordos financeiros arriscados e opacos.

Além do prejuízo econômico para inúmeras empresas, a falência do grupo teve repercussões políticas no Reino Unido, onde reacendeu o debate sobre os laços entre as elites políticas e empresariais.

“Quanto ao meu papel, nunca fui contratado pela Greensill para fazer lobby junto ao governo britânico, nunca fez parte das minhas prerrogativas”, disse Cameron ao comitê do Tesouro do Parlamento britânico.

“Minha motivação para entrar em contato com os ministros (…) foi ajudar as empresas britânicas nestes momentos difíceis” do início da pandemia de coronavírus, defendeu-se. Mas “nada do que fiz infringiu as regras”, assegurou.

De acordo com documentos apresentados pela comissão, o ex-primeiro-ministro conservador e sua equipe enviaram 73 e-mails, mensagens de texto e no WhatsApp a autoridades governamentais e financeiras em quatro meses em 2020.

No ano passado, no início da pandemia, muitas empresas aproveitaram a porta dos fundos do governo para fechar contratos sem licitação, inclusive para fornecimento de equipamentos sanitários.

O ministro das Finanças, Rishi Sunak, admitiu ter pedido a suas equipes que considerassem o pedido de Cameron em nome da Greensill, que buscava ajuda governamental dedicada a ajudar as PMEs a lidar com a crise, mas sem sucesso.

A polêmica se agravou quando foi revelado que Cameron havia concedido ao fundador da empresa financeira, o banqueiro australiano Lex Greensill, acesso direto a Downing Street durante seus anos no poder (2010-2016).

Comparecendo na terça-feira perante esta comissão, Greensill assumiu “total responsabilidade” pela falência da companhia, mas negou atividades fraudulentas de uma estrutura caracterizada por sua opacidade e denunciada como piramidal por seus detratores.

“Lamentando desesperadamente” a falência, Cameron disse aos deputados que, na época de seu lobby, “ele não tinha a sensação de que a empresa estava prestes a entrar em colapso”.

“Eu não era diretor dessa empresa, nem participava das decisões de empréstimo. Em última análise, não tenho ideia do que aconteceu”, disse.

Ele reconheceu, porém, que agora se pergunta “que decisões diferentes ele poderia ter tomado?”

E embora continue “tendo alguns interesses comerciais”, arantiu que se concentrará em suas atividades beneficentes, como o combate à demência.