O ex-primeiro-ministro Alain Juppé renunciou nesta segunda-feira a servir de alternativa na direita francesa a François Fillon, que segue determinado a manter sua candidatura à eleição presidencial, apesar de um escândalo de empregos-fantasma que pode resultar em seu indiciamento.

“Eu confirmo de uma vez por todas que não serei candidato à presidência da República”, afirmou Juppé, 71 anos, derrotado por Fillon nas primárias da direita e do centro organizadas em novembro

Juppé, atualmente prefeito de Bordeaux, primeiro-ministro entre 1995 e 1997 e que já ocupou diversas pastas ministeriais, era considerado uma alternativa à queda de Fillon nas pesquisas.

“Jamais sob a Quinta República (desde 1958) uma eleição presidencial se apresenta de forma tão confusa”, alertou Juppé, que citou uma esquerda “perdida”, uma extrema-direita que se reveste de “fanatismo antieuropeu” e a popularidade crescente do centrista Emmanuel Macron (39 anos), apesar de sua “imaturidade política” e da “fragilidade de seu projeto”.

“Para mim, já está muito tarde”, declarou, antes de explicar que não tem a capacidade para “unir” a direita e o centro “ao redor de um projeto federativo”.

Juppé é considerado muito mais moderado que Fillon, que propõe um programa socialmente conservador, economicamente muito liberal e de restrição da imigração.

– Obstinação de Fillon –

Em sua declaração na prefeitura de Bordeaux, Juppé criticou, no entanto, a obstinação de Fillon em pretender continuar como candidato.

Fillon, de 63 anos, pode ser indiciado em um caso de empregos fantasmas que teriam beneficiado sua esposa e dois de seus filhos, como assistentes parlamentares quando ele era deputado.

“Que desperdício”, afirmou Juppé, ao recordar que Fillon, que já foi considerado o grande favorito da eleição presidencial, tinha diante de si “uma avenida” aberta para chegar ao posto de chefe de Estado.

De acordo com as pesquisas mais recentes, Fillon seria eliminado no primeiro turno da eleição, em 23 de abril, ao ser superado pela candidata de extrema-direita Marine Le Pen e por Emmanuel Macron, ex-ministro do presidente socialista François Hollande, mas agora um candidato de centro.

Fillon, no entanto, conseguiu reunir milhares de simpatizantes no domingo em Paris, em uma manifestação de apoio à manutenção de sua candidatura.

Ainda no domingo à noite Fillon descartou a possibilidade de jogar a toalha, apesar das muitas deserções a seu redor, quase 300, incluindo as de seu porta-voz e do coordenador de sua campanha.

“Ninguém pode, hojem impedir-me de ser candidato”, disse.

– A ameaça Le Pen –

A novela da campanha eleitoral francesa tem um novo episódio nesta segunda-feira, com uma reunião nas próximas horas do comitê político do partido de direita Os Republicanos (LR) para “avaliar a situação”.

O ex-presidente Nicolas Sarkozy, figura de grande peso do LR, propôs uma reunião com Fillon e Juppé para “encontrar uma saída digna a uma situação que não pode durar mais”.

“Fillon acabou”, teria afirmado no domingo à noite a integrantes do partido.

A direita teme cada vez mais uma nova derrota na eleição presidencial, cinco anos depois do fracasso de Sarkozy, então presidente, superado nas urnas por François Hollande.

O próprio Hollande – que não aspira à reeleição – saiu de sua reserva para advertir que existe a “ameaça” de uma vitória de Marine Le Pen nas próximas eleições presidenciais, em uma entrevista concedida a seis jornais europeus.

“A ameaça existe, já que a extrema-direita nunca chegou tão alto em mais de 30 anos”, disse o presidente, antes de completar, no entanto, que a “França não cederá”.

“Se a candidata da Frente Nacional vencer, abriria imediatamente um processo de saída da zona do euro, e inclusive da União Europeia”, prosseguiu.

O vice-presidente da FN, Florian Philippot, não hesitou em afirmar que muitos eleitores indecisos indecisos ou favoráveis a Fillon “votarão em Marine Le Pen, porque este será o voto útil (…), o voto que corresponde a suas convicções”.