O ex-líder político do ETA José Antonio Urrutikoetxea Bengoetxea, mais conhecido como Josu Ternera, foi detido nesta quinta-feira (16) no sudeste da França, depois de passar mais de 16 anos foragido da justiça espanhola.

A detenção de um dos dirigentes históricos da organização separatista armada basca, dissolvida há um ano, “aconteceu nas primeiras horas do dia na localidade de Sallanches nos Alpes franceses”, anunciou o ministério do Interior espanhol em um comunicado.

Ternera foi levado na tarde desta quinta à prisão de Bonneville, cidade ao pé dos Alpes, onde foi detido hoje de manhã.

O líder foi levado a um tribunal onde o juiz de liberdade lhe notificou de seu mandado de prisão, antes de detê-lo. Ele saiu do tribunal escoltado usando uma balaclava que cobria seu rosto.

Foi condenado à revelia em 2017, em Paris, a oito anos de prisão por participação em associação terrorista.

Na sexta-feira, será transferido para o tribunal da capital francesa, onde será apresentado à promotoria. Ternera terá dois dias para apelar da sentença de 2017 e obter um novo julgamento. Caso contrário, a pena será executada.

Aos 68 anos, é descrito no comunicado como “o militante da organização terrorista ETA mais procurado pelas forças policiais, tanto espanholas como francesas”.

Durante 40 anos de violência pela independência do País Basco e Navarra, o ETA assassinou mais de 800 pessoas, até abandonar a luta armada em 2011.

Em maio de 2018 o grupo anunciou a dissolução. Ternera foi o responsável por gravar a chamada “declaração final”, que acabou com o grupo criado na resistência contra a ditadura de Francisco Franco.

Ao que parece gravemente enfermo – a imprensa afirma que ele tem câncer -, Josu Ternera estava foragido desde 2002 da justiça espanhola, que o vincula ao atentado com bomba 1987 contra um quartel da Guarda Civil em Zaragoza que matou 11 pessoas, incluindo crianças.

– Estrategista do terror –

Com grande influência dentro do grupo, Ternera liderou o ETA de 1977 a 1992.

De acordo com analistas, neste período ele privilegiou a estratégia do terror para forçar o governo espanhol a negociar com o separatismo basco.

Os especialistas atribuem a Ternera a adoção dos atentados com carros-bomba pelo ETA.

Ele foi eleito deputado pelo Herri Batasuna, partido nacionalista radical basco considerado por muitos o braço político do grupo separatista.

Também participou nas fracassadas negociações de paz em 1989 com membros do governo espanhol na Argélia.

Em 2002 fugiu da justiça depois de ter sido convocado pelo Tribunal Supremo para depor sobre o atentado de 1987.

Na clandestinidade, participou nas negociações com o governo socialista espanhol durante uma trégua em 2006, mas foi afastado para que integrantes da linha mais dura do grupo assumissem o comando.

O processo fracassou: em dezembro de 2006 o ETA explodiu uma bomba no aeroporto de Madri, que matou dois equatorianos, e em junho de 2007 deu por encerrado o cessar-fogo.

As forças de segurança responderam com operações policiais contra a organização, que, sem capacidade operacional, anunciou o fim da violência em 2011.

Foi Ternera quem deu deu voz à “declaração final” que fechou a história do bando.

A dissolução do ETA não acabou com os esforços da polícia contra a organização, com mais de 350 crimes ainda não solucionados.

Segundo o ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, Ternera é reivindicado na Espanha e na França.

O Tribunal Nacional de Madri está preparando seu pedido de extradição para a Espanha, onde está implicado no ataque a Zaragoza e no assassinato do diretor em Espanha da empresa francesa de pneus Michelin, entre outras causas, segundo o tribunal.