Ex-CEO da Cisco e agora consultor de risco de grandes empresas nos Estados Unidos, John Chambers está pessimista com os efeitos do coronavírus no mundo. Em sua visão, somente fintechs bem estruturadas e imersas em boas práticas tecnológicas vão sobreviver e sair fortes dos próximos nove meses de crise econômica.

Em entrevista ao MarketWatch, Chambers disse que uma recuperação completa do mercado não deve acontecer até o início de 2021. “As empresas estão ficando sem dinheiro. O próximo trimestre será feio”, apontou.

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O executivo acredita que a receita das empresas vai cair pela metade e “apenas as startups mais fortes sobreviverão”. A pandemia, prossegue ele, atinge três eixos importantes para os países, que são a economia, o sistema de saúde e a cadeia global de suprimentos, com as indústrias de viagens e companhias aéreas se recuperando mais lentamente do que instituições financeiras e de varejo.

Chambers, que está com 70 anos, liderou a Cisco Systems como executivo-chefe por anos até 2015 e agora presta consultoria à 18 startups nos Estados Unidos. Ele defende que a crise é uma abertura para empresas inovadoras e ousadas.

“Para muitos, será como uma segunda chance de fazer uma oferta pública inicial (IPO, em inglês)”, avalia ele, citando os caminhos que a Cisco adotou em 2001, 2005 e 2008-09 para fortalecer os negócios.

Quando assumiu a empresa de tecnologia, em 1992, a Cisco saiu de US$ 1,2 bilhão em receita para US$ 47 bilhões em 2015, quando assumiu por dois anos o cargo de presidente executivo.

Com a gripe aviária de 2005, a Cisco desenvolveu o “TelePresence”, um dos primeiros programas de videoconferência para reuniões à distância no mundo.

Chambers defende a adoção de big data, inteligência artificial, o uso de tecnologia 5G e computação de ponta para as empresas e cita marcas como a rede de fast food Shake Shack, o aplicativo de chamadas online Zoom e a Delta Air Lines como exemplos de bons investimentos em tecnologia.

“É hora de reinventar ou ser deixado para trás. E lembre-se, grandes empresas de tecnologia surgiram durante a crise econômica”, ponderou.

Para ele, a crise de 2005 é mínima quando comparada ao coronavírus e o atual cenário momento vai forçar muitas empresas a “usarem esse momento para fazer a transição para o digital”. Ele passou o último ano insistindo para que as grandes empresas globais, que integram a Fortune 500, se refizessem como operações digitais, ou acabariam enfrentando a extinção.

O coronavírus, avalia Chambers, só aumentou a necessidade do digital e acelerou os danos para muitas empresas.